Não quero, Marcela,
A tristeza de teus últimos suspiros
Nem o desespero aflorante em tuas linhas.
Me dirijo à leveza da chuva que cai
Ou à tranquilidade do filósofo que atingiu a verdade.
Por que essa agonia?
O que tanto te dói do mundo?
Que seja vão?
Que não haja propósito?
Que a vida não tenha sentido?
Há sentido demais na falta de sentido,
Pense bem
Se houvesse sentido,
Se houvesse um divino que,
Flanando ébrio no veio íntimo da matéria,
Se nos impusesse escolhas e acepções,
Que nos sobraria senão a revolta?
A verdade, Marcela, é simples como o pensamento de um tolo;
A verdade, Marcela, é mais expressa no poema
Do que na ciência:
Se lha agarramos toda com intuição,
Com o súbito dar-se conta,
Após a noite de estudos.
Não me digas que devemos chorar
Pelo fundo ausente do significado.
Bem ao contrário,
Da indiferença ríspida das rosas
Advém sua beleza
Da transparência profunda do ser
Surge o solo de aí estarmos.
Então, não te apresses:
A terra há de nos devorar, é certo.
Até lá, toma teu licor
E aprecie o lento transcorrer
Mudo-tagarela do mundo.
R.P., inverno de 2025
Nenhum comentário:
Postar um comentário