Imaginemos uma situação: cada pessoa afirma seu ponto de vista unilateralmente, baseado nas evidências que possui e em sua própria formação. Dizem verdades sobre o universo, asseveram os fundamentos da história e fazem constar como se deve agir diante dos fatos. Como adquirir seu próprio ponto de vista nesta discussão? Aristóteles afirmaria que se deve fugir do extremos, buscando o justo-meio. Kant se interrogaria sobre as condições em que cada ponto de vista foi gerado. Já Hegel pensa que ambos estão corretos, são momentos de expressão de uma mesma verdade mais fundamental. Marx demandaria as posições de classe de cada um. Nietzsche clamaria pela história das diferentes posições. Essa anedota exprime um pouco a história da filosofia e das ciências, com a vantagem de que esta última desenvolveu metodologias para fugir da mera expressão de opinião. Como descobrir a episteme (ciência) por trás das distintas doxas (opiniões)? Ou o problema esta na própria ideia de que existe uma Verdade, última e redentora? Parece que, diante de tudo isto, devemos nos valer do método dos cientistas. Já entre os gregos os hipocráticos prescreviam o método experimental. O problema é que a experiência é dúbia, dando margem para muitas interpretações, como mostra Descartes; mas, ao invés de nos refugiarmos no cogito, talvez devamos aprender com Francis Bacon. Para este, o saber serve para dominar. Então, colocando o saber nos marcos da dominação, das lutas sociais que os produziram, em uma mixórdia de Kant, Marx e Nietzsche, estes doutos teutões, cheguemos a um resultado satisfatório. Então, daríamos razão a Hegel: cada um revela um pouco o ser, cada um expressa um aspecto da verdade. Para chegar a esta, é necessário compreender que o próprio ser se dá como conflito, sempre aberto, sempre renovado. No final, talvez cheguemos ao começo, com a cobra comendo o rabo: a rediviva frase de Heráclito, "a guerra é de todas as coisas pai...". Eis belo exemplo de atavismo filosófico.
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