A [justa] medida é o melhor
Cleóbulos de Lindos
[Na tradução de Cleóbulo, achei correto colocar "justa" para qualificar "medida", porque é como ficou conhecida na tradução brasileira] Antes do surgimento da filosofia, por volta do século VI, a Grécia produzia outras formas de sabedoria. Além da poesia gnômica (oracular) e da poesia épica, havia os sete sábios da Grécia. Houve muitas listas com as frases dos sábios, e os próprios sábios também mudaram ao longo do tempo, alterando-se segundo o autor que os compilava. São famosos por suas frases curtas, expressando máximas morais ou simples conselhos para a vida. São efígie do espírito grego. Nessa máxima que traduzi hoje, por exemplo, está manifesta algo que traduz o que um aspecto central da vida psíquica grega: o amor pela moderação. Ou um dos aspectos, se seguirmos Nietzsche, que afirma que, além do amor pela moderação, pela luz, pela correta medida, havia o extático, o ressoante, como expressão da cultura grega. Seria na dialética entre estes dois modos de vida, o apolíneo e o dionisíaco, que se teria forjado a cultura grega. A filosofia de Platão já marcaria a decadência da cultura grega, posto que apagaria o dionisíaco para passar tudo pelo crivo da razão. O curioso é que este espírito apolíneo foi o que ficou marcado como o tipicamente grego, sendo recuperado mais tarde pelos neoclassicistas e renascentistas, na luta contra as tradições religiosas. Pode ser definido também pela fala do mais famosos dos sete sábios, Sólon de Athenas: μηδεν ἀγαν, ou, nada em excesso, nada em demasia. Vê-se que são característica próprias da cultura grega, que Platão e Aristóteles somente expressam em caráter filosófico, sem nada criar de novo (para um grego).. Quando Sade vai definir o libertino, ele nos dá outra visão: o libertino é excessivo, é pela desmesura. Por isso Sade é tão chocante: vai contra os valores que herdamos da Grécia clássica e que influenciaram a démarche do Ocidente.
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