sexta-feira, 31 de dezembro de 2021

Artigos publicados em 2021

 

  1. A estratégia como móbil - UNIFAP

  2. A possibilidade da filosofia africana segundo Foucault - Seara filosófica

  3. Verdade, pós-verdade, notícias falsas e poder: Foucault e as fake news - Ipseitas

  4. Michel Foucault: uma ontologia bélica? - Ipseitas

  5. O papel da filosofia na crise contemporânea - Eleuthería

  6. O conceito filosófico de estratégia de Michel Foucault - Revista Outra Margem

  7. As armas dos filósofos - Kinesis

Lista de livros lidos em 2021

 Janeiro


  1. Dits et écrits 3 - Michel Foucault

  2. O que é estalinismo? - José Paulo Netto

  3. Marx through post-structuralism - Simon Choat

  4. Oxford Practice Grammar Basic - Coe, Harrison, Paterson

  5. Metodologia do trabalho científico - Eva Lakatos, Marina Marconi

  6. A filosofia a partir de seus problemas - Mario Porta


Fevereiro

  1. Metodologia filosófica - D. Folscheid, J.-J. Wunenberg

  2. Guide to publish a scientific paper - Ann Körner

  3. Filosofia da Mente - Cláudio Costa

  4. Filosofia da história - Rossano Pecoraro

  5. Philosophical writing - A. P. Martinich

  6. Die Leiden des jungen Werther - Goethe

  7. Formação do Brasil contemporâneo - Caio Prado Júnior

  8. Vocabulary in use - Stuart Redman

  9. Immanuel Kant - Otfried Höffe

  10. Filosofando - Maria Aranha, Maria Martins


Março


  1. Impressões de Foucault - Roberto Machado

  2. Capítulos de história colonial - Capistrano de Abreu

  3. O analista de Bagé - Luís Fernando Veríssimo

  4. Formação econômica do Brasil - Celso Furtado

  5. Fatos do espírito humano - Gonçalves de Magalhães

  6. A ontologia em debate no pensamento contemporâneo - Manfredo A. de Oliveira


Abril


  1. O mistério do cinco estrelas - Marcos Rey

  2. Consciência e realidade nacional vol I - Álvaro Vieira Pinto

  3. Filosofia política e liberdade - Roland Corbisier

  4. Essais vol.I  - Montaigne

  5. Novum Organum - Francis Bacon

  6. New Atlantis - Francis Bacon

  7. Ensaios e estudos de Philosophia e crítica - Tobias Barreto

  8. O romantismo no Brasil - Antônio Cândido

  9. Discours de la méthode - René Descartes

  10. Méditations métaphysiques - René Descartes

  11. 1492: El encubrimiento del Otro - Ensique Dussel

  12. El giro decolonial - Grosfoguel, Castro-Gómez

  13. Early Greek science. Thales to Aristotle - G.E.R. Lloyd


Maio


  1. World-Systems Analysis - I. Wallerstein

  2. A consciência conservadora no Brasil - Paulo Mercadante

  3. Greek science after Aristotle - .G.E.R. Lloyd

  4. La edad heroica de la ciencia - Heidel

  5. Pensamentos metafísicos - Espinosa

  6. Tratado da correção do intelecto - Espinosa

  7. Tratado Político - Espinosa

  8. The art of war and military thought - Martin van Creveld

  9. Leviathan or the Matter, Forme, & Power of a Common-wealth Ecclesiasticall and Civill -  Thomas Hobbes

  10. Anaximander and the origins of Greek cosmology - Charles Kahn

  11. Ἀνακρεοντεια - Anacreonte

  12. The world of Odysseus - Moses Finley

  13. Theogonia - Hesíodo


Junho


  1. Ética demonstrada à maneira dos geômetras - Spinoza

  2. Iniciação ao latim - Zelia de Almeida Cardoso

  3. Le grec ancien - Jean-Pierre Guglielmi

  4. A philosophia no Brasil - Sylvio Romero

  5. Historia de la dialectica - Paul Sandor

  6. Ontologia - Achille Varzi

  7. História das ideias filosóficas no Brasil - Antônio Paim

  8. Noções de história da filosofia - Pe. Leonel Franca

  9. Nietzsche e a ontologia do vir-a-ser - Eduardo Nasser


Julho


  1.  A Greek prose reading course for post-beginners - Malcolm Campbell

  2. Process Philosophy - Nicholas Rescher

  3. História da filosofia do Brasil vol I. - Paulo Margutti

  4. A reading course in Homeric Greek vol. I -  R. Schoder e V. Horrigan

  5. Manual de Campanha: Estratégia - Estado-Maior do Exército

  6. Fundamentos do Poder Nacional - Escola Superior de Guerra


Agosto


  1. Griechisch für das Philosophiestudium - Alfred Dunshirn

  2. Filosofia brasileira - Luiz Alberto Cerqueira

  3. Ἐυθυφρων ἠ περι ὀσιου - Platão

  4. O discurso e a história - Júlio Canhada

  5. Introdução à lógica simbólica - Paulo Margutti Pinto

  6. Ludus Primus - Pe. Milton Valente

  7. Two treatises of government - John Locke



Setembro


  1. Le chinois sans peine vol I - Assimil

  2. ΑΠΟΛΟΓΙΑ ΣΩΚΡΑΤΟΥΣ - Platão

  3. Sovereignty - F.H. Hinsley

  4. Parlez chinois en 40 leçons - Michel Désirat

  5. A significação educativa do romantismo brasileiro: Gonçalves de Magalhães - Roque Spencer Maciel de Barros

  6. Reading Homeric Greek vol II - Leslie Collin Edwards


Outubro

  1. Tudo que você precisa saber para não ser um idiota - Olavo de Carvalho

  2. Mission Sphinx - Glenn Meade

  3. Κριτων - Platão

  4. Novo Olhar Geografia vol. I - Rogério Martinez, Wanessa Garcia

  5. Le latins sans peine - Assimil

  6. Novo Olhar Geografia vol.II - Rogério Martinez, Wanessa Garcia

  7. The Tao of physics - Fritjof Capra

  8. Oxford Latin Course vol I - Maurice Balme, James Morwood


Novembro

  1. Novo Olhar Geografia vol.III - Rogério Martinez, Wanessa Garcia

  2. O Ateneu - Raul Pompéia

  3. Carta do achamento do Brasil - Pero Vaz de Caminha

  4. O marinheiro - Fernando pessoa

  5. Seminário dos ratos - Lygia Fagundes Telles

  6. Sobrevivendo no inferno - Racionais MC

  7. Alguma poesia - Carlos Drummond de Andrade

  8. Nove noites - Bernardo de Carvalho

  9. Propedêutica ao grego - Hilda Penteado de Barros

  10. Grammaire Grecque - E. Ragon

  11. Ludus secundus - Milton Valente

  12. Campo Geral - João Guimarães Rosa

  13. Mensagem - Fernando Pessoa

  14. Discours sur le colonialisme - Aimé Césaire

  15. Portrait du colonisé précédé du portrait du colonisateur - Albert Memmi

  16. Grund- und Aufbauwortschatz Griechisch - Thomas Meyer, Hermann Steinthal


Dezembro


  1. Romanceiro da inconfidência - Cecília Meirelles

  2. The turning point - Fritjof Capra

  3. Oxford Latin Course vol II - Maurice Balme, James Morwood

  4. What Is Populism? - Jan-Werner Müller

  5. Quincas Borba - Machado de Assis

  6. Gramsci - Carlos Nelson Coutinho

  7. Terra sonâmbula - Mia Couto

  8. Angústia - Graciliano Ramos

  9. Bons dias - Machado de Assis

  10. Tarde -Olavo Bilac

  11. Le bergsonisme - Gilles Deleuze

  12. Réflexions sur la violence - Georges Sorel

  13. Il principe - Niccolò Machiavelli

  14. Niketche -  Paulina Chiziane

  15. Oxford Latin Course vol III - Maurice Balme, James Morwood

  16. A Nova Era e a Revolução Cultural - Fritjof Capra & Antonio Gramsci - Olavo de Carvalho

sábado, 18 de dezembro de 2021

A revolução, é ela desejável?

O Petit Gaffiot, um dos principais dicionários de latim, não dá entradapara o termo revolutio, mas para os termos revolutus, partícipio do verbo revolvo, e este último, que significa voltar, retornar, ou seja, re, indicativo de repetição, e volvere, voltar, mexer. Sabe-se que a utilização do termo revolução para indicar mudanças sociais é recente. Até bem pouco tempo, essa palavra indicava o movimento dos astros, que sempre retornam suas posições prévias, em um tempo onde a física moderna ainda engatinhava e antes disso. Atualmente, o termo indica a mudança brusca de rumo de algo, e, nas ciências humanas, a emergência de uma nova racionalidade de organização. Assim, termos como revolução científica e revolução dos costumes, vieram se juntar às ideias de alteração repentina de um governo ou sociedade ou do movimento dos astros, esta última acepção caindo em desuso.

Em um de seus textos, não me lembro ao certo qual, Foucault vaticina: se a era contemporânea principiou por uma revolução, outra há de dar-lhe cabo. Com isto, Foucault prossegue uma tradição, de cariz socialista, que indicava a necessidade de uma revolução, nos dois sentidos que o termo comporta: a inexorabilidade da revolução ou a carência que dela padece as sociedades hodiernas. E, em meados do século passado, essa dupla acepção pareceu se confirmar, já que, em todos os continentes, revoluções se processaram, governos caíram, sociedades se transformaram.

Como diz Emília Viotti, o século XIX viu as revoluções liberais, o XX, as revoluções socialistas. E o XXI? Permanece válida a ideia de revolução? Mais que a ideia, o objetivo da revolução, como panaceia de nossos males, é ele atual? Caso não, como se processarão as mudanças sociais? Somente por revoltas, insurreições? Ou as lutas sociais devem ser absolvidas pelos debates parlamentares, local de criação de importante nicho de normatividade? Caso sim, quem será o sujeito dessa revolução, quem a fará? Ou compete às forças interessadas criar esse sujeito? Mais ainda: qual há de ser o caráter dessa revolução e como esse caráter se adaptada ao Zeitgeist, visto as demandas emergentes que se materializaram em nossa sociedade desde a queda da URSS, evento considerado marco nessa seara? Quais seus objetivos? E seus métodos? Ainda há necessidade, no sentido bígamo do termo, de revolução, enfim?

É nesse debate, com muitos autores envolvidos, verdadeira messe teórica, que queremos nos posicionar. Nosso estudo é parcial e há de subsidiar um artigo e, pretendido, um livro. Assim, estudo em progresso, por hora esboçaremos algumas reflexões prévios, expondo à sala escura da crítica nossas ideias e, destarte, incentivando um debate importante para o conjunto da sociedade, sem pretensões de originalidade ou de abrangência.

Os problemas se avolumam; nisto todos estão de acordo. Liberais, fascistas, comunistas, anarquistas. Cada qual a seu modo pensa que a sociedade global está em um rumo equivocado e necessita de mudanças imperiosas. A diferença entre esses grupos é que o hegemon é liberal e possui poder de facto para impor ao restante do planeta um rumo. Nesse sentido, os liberais não acreditam em revolução como respostas às questões prementes. A burguesia liberal abandonou as armas da oposição, tornando-se a posição que todos atacam, o extremo-centro; assim, as mudanças propostas pelo hegemon nada mais são do que dar os anéis para não perder os dedos. Pequenas concessões e, se o mundo se prepara para sair da era dos combustíveis fósseis, as mudanças serão paulatinas, não bruscas, como geralmente se associa a uma revolução.

Restam os extremos. Uma extrema-direita fascistas, com cariz diferente conforme se esteja de um ou outro lado do planeta, mas associadas à noções saudosistas, de restauração de um passado ido, onde não havia migração, não havia tantos negros em Paris, e o Ocidente reinava indiscutivelmente, assentado nas colônias. A fé era o principal denominador comum das diferentes sociedades, constituindo a religião a raison d’être da vida de milhões. Ou seja, trata-se de uma revolta contra o mundo moderno, contra a ciência, contra o materialismo crescente, do liberalismo e socialismo que trocaram as considerações ética, uns pelo vil metal, outros pelo interesse de classe. A extrema-direita e, assim, reacionária; quer restaurar o passado idealizado, seja da ditadura no Brasil, seja quando a América era great ou a Europa tinha colônias.

Já a extrema-esquerda repete a mesma ladainha: socialismo ou barbárie. Só ele pode nos salvar da destruição certa para a qual nos leva o capitalismo: guerras, massacres, genocídio e, mais recentemente, ecocídio. O que é esse socialismo é questão sobre a qual essa esquerda não se põe de acordo. Para uns, estatização dos meios de produção. Para outros, autogestão dos mesmos.

Fascistas querem a revolução dentro da ordem: contrarrevolução política, utilizar o Estado para impor uma ordem regressiva, por exemplo, através de golpes de Estado. Já a extrema-esquerda quer se valer de agitações populares a fim de, para uns, controlar o Estado, para outros, extingui-lo. São as forças contrarrevolucionárias e revolucionárias de nossa sociedade.

Nos concentremos na extrema-esquerda. Conforme é de conhecimento comum, as teorias revolucionárias tomam corpo em um momento de ascensão da indústria, com a formação de grandes contingentes operários, mas com uma importante base camponesa, em uma Europa onde o feudalismo ainda não tinha sido completamente enterrado. Ao contrário, é em contraposição aos privilégios feudais que o socialismo revolucionário primeiro se insinua, indo se assentar somente com a delineação do capitalismo industrial, no entanto. Mas, se pensarmos nos Enragés, nos Diggers e nos Levellers, vê-se que a massa camponesa já era revolucionária avant la lettre, no seio mesmo dos movimentos subversivos burgueses. No século XIX o que eram intuições ou escritos menos claros dá lugar claro á teorias subversivas da ordem, nas forma do marxismo e do anarquismo. A revolução ganha as massas definitivamente e, desde então, exerce atração sobre parte das populações, dando origem a distintas teorias de como operacionaliza-la.

Com o ciclo revolucionário que principia com a Comuna, as revoluções socialistas sacodem o mundo em vagas sucessivas. Após a Revolução espanhola, no entanto, a Europa deixa de ser o centro revolucionário, com este se transferindo para a periferia do sistema, em revoluções anticoloniais, muitas com caráter socialista. A queda da URSS significa um duro golpe aos revolucionários uma vez que a sociedade socialista ou assim dita que por mais tempo se firmou, deu lugar a um capitalismo mafioso, com altos índices de miséria, concentração de renda e opressão.

Tivemos que esperar décadas até que processos revolucionários se desencadeassem, descontado o movimento zapatista, no vãmente na periferia do sistema. No centro, os outrora grandes partidos comunistas se viram reduzidos a pequenas agremiações e os anarquistas já não constituem força expressiva em quase nenhum lugar.

No Brasil, as força de esquerda derrotadas durante a Ditadura parecem ter tomado, em sua ala majoritária, os rumos de uma via parlamentar sequer reformista, já que não está em seus planos uma sociedade capitalista, somente a mitigação dos efeitos dispersivos e nefandos do capitalismo.

Desde a ascensão do neoliberalismo, a desigualdade aumenta. A velha classe trabalhadora ocidental, gloriosa de tantas batalhas, viu os empregos industriais serem transferidos para o outro lado do planeta, para nações que já fizeram revolução e se identificam, gostemos ou não, como comunistas. Aproveitando-se da precarização das relações de trabalhos, as classes dominantes tocaram adiante um programa que desmembrou a classe trabalhadora, através da terceirização, e, mais recentemente, da uberização. O Estado, que representa a ideia de público na propriedade das coisas e no interesse defendido, foi apontado como fonte maior dos males, ineficiente e fonte de corrupção. Assim, importantes empresas públicas foram privatizadas e a lógica de mercado se aprofundou em todos os ramos da vida social. O neoliberalismo se fez escrever nas constituições ou tratados, se tornando, assim, norma legal a ser seguida por não importa qual governo.

Se o neoliberalismo reina e já não há, no Ocidente, o clássico inimigo do capital, o operariado fabril, com os postos de trabalho mecanizados e os empregos restantes sendo muito bem pagos, de forma a garantir ascensão social e jogar para as traças a memória de uma classe trabalhadora revolucionária; enfim, nesse cenário é possível a revolução?

Aprendi no curso de filosofia que, desde que não logicamente contraditório, tudo é possível. Então, melhor dizendo, é provável? Os novos sujeitos que tem tocado as lutas no último período (estudantes, imigrantes, mulheres, LGBT’s, indígenas) parecem ter a força para realizar revoltas, mas não revoluções, já que lhes falta uma característica central da velha classe trabalhadora: o poder de suspender a produção. Também outras formas de militância, como associações de bairro, sofrem da falta de poder de barganha ou mobilização.

Ou seja, o neoliberalismo aprofundou as mazelas do capitalismo, mas destruiu, com astúcia, aqueles que poderiam se opor a ele. Nessas condições, é provável uma revolução, por exemplo, na Alemanha, nos EUA ou na França? Não somos futurólogos, mas acreditamos que essas sociedades se preparam para mudanças drásticas no próximo período. A crise ambiental imporá alterações de grande magnitude em todas as sociedades. Para o próximo período, se anuncia uma mutação verdade; se será revolucionária, baseada nas periferias do sistema, ou se será meramente mudar algo para manter tudo como está, vai depender da correlação. No último período, vimos movimentos de massa nos EUA (onde as condições de vida são particularmente brutais) e na França (com os Gilets Jaunes), mas o futuro pós-pandemia desses surtos de manifestação é incerto. Falta-lhes organicidade, organização, enraizamento.

As alterações no mundo do trabalho tornaram a velha classe trabalhadora e seus órgãos de classe parte do sistema. Hoje, poder se sindicalizar já indica certa condição privilegiada, já que os novos empregos são precarizados, isto quando não há outras formas de emprego, onde o trabalhador trabalha por conta própria, com a ilusória impressão de ser senhor de si, destruindo por completo a chances de organização enquanto classe. A classe não é somente um dado econômico, ela deve ser construída. Por estas vias, como diziam meus amigos Marcelo Bigode e Vinícius Millhouse, vivemos uma surra de classes — e não estamos a bater.

A crise dos setores espoliados não é de direção, mas de organização, à moda sindicalista revolucionária: estamos desorganizados, e somente muita militância pode reverter esse quadro. Criar o antagonista das elites, a partir de uma massa repleta de ilusões, que defende com unhas e dentes os setores que a oprimem e sem tradição de luta. Eis as tarefas dos revolucionários. Ao mesmo tempo, a partir da reflexão sobre as experiências socialistas até aqui, chegar no programa correto, socialista, e não em arremedos. Nesse sentido, a proposta da construção do comum parece promissora. Mas isto é debate para outro texto.


quarta-feira, 15 de dezembro de 2021

Rap?

 salve!

podi pá

o mundo tá errado

tem que mudá

na terra e no asfalto


eu vejo gente com muito dinheiro

gente na mansão

outros no bueiro,

pobre no barracão


a ordem favorece

o rico, o alemão

enquanto se esquece

do pobre sem um tostão


podi pá,

o mundo tá errado

tem que mudar

na terra e no asfalto


pobre só fica feliz

na tumba fria

sem chamariz

onde esfria

seu corpo todo, 

e apodrece

vira lodo

enrijece


não existe destino

nesse universo.

se no desatino

encontra-se imerso

há que lutar para mudar.

um mundo imenso

para melhorar 


podi pá

o mundo tá errado

tem que mudá

na terra e no asfalto


a única saída é organização

juntar os excluídos do mundo

em uma união

para fazer surgir, fecundo,

planeta diferente

sem pobre nem excluído

um mundo de toda gente


podi pá

o mundo tá errado

tem que mudá

na terra e no asfalto


Ribeirão Preto, Primavera de 2021

Marcela V

 já correram três anos completos

da tua ida,

ò meu afeto,

três anos que abandonaste a vida


Vives nas memórias,

nos poemas,

nas glórias,

na vida, em que não mais penas


parece um pesado fado

viver nesta terra

sem a graça de teu agrado

viver entre as feras


mas, da vida despedida,

resta a lembrança,

nossa desdita


resta a eterna melodia

de sua voz, minha criança

e de nós dois a começar a vida


Ribeirão Preto, Primavera de 2021

Bilac

 a rima,

a poesia moderna

perdeu

é isto que me anima

a explodir em: eu


agora,

mais vale o ritmo

obtido sem demora

do prumo 

que aflora


a poesia é como canção

obtida pela ordem

acompanhada com violão:

as orelhas mordem


assim, tento obter

uma poesia a amar,

que possa entreter,

e o mundo alterar

quinta-feira, 9 de dezembro de 2021

O governo

Aquele néscio,

nas covardias imerso,

de vida sem labuta,

em verdade uma puta,


Puta vendida,

governante genocida

só quis saber do sucesso

e faz governo infenso


Liberdade é uma fruta

que se ganha contra a dita

e que se aprende a amar


Sucesso dele é nosso azar.

Com luta renhida

deixa a pátria de ser desvalida!


Seu nome é Bolsonaro

animal ignaro

de crimes  confesso


mentira é seu osso

é sua birita

seu ser, sua comida


Por hora, é dele o governo

Mas logo passa o inverno

e a rosa vai desabrochar


Confio no povo de vida sofrida

bilontra por inteiro

que por lutas há de se libertar

quarta-feira, 8 de dezembro de 2021

Votos a Bolsonaro

Maltrapilho de ditador

malfazejo é teu futuro

ainda vai se sentir da dor

de ser esse bagulho.


Como italiano outrora feliz,

terminará os dias,

com sua imperatriz,

a encarar as terras frias


Pé olhando o universo, pendido.

Sim, nessa hora de glória

estará falsamente arrependido.

Então, serás história!


Para ti, fim inglório.

para a turba, honra e vitória.

Este é teu término simplório,

e chega na melhor hora.


Ribeirão Preto, primavera de 2021 

Religião

Eles pedem a deus

não a paz do mundo

ou piedade com os seus


pedem o dinheiro imundo

pedem o carro do ano

elegem o iracundo


pedem pedra e pano

pagam quantia malfasana

para garantir sua choupana


no céu assim fecundo

e dizem que esta é a resolução

do deus crucificado


do deus cristão.

Outros querem virgem

nova todo dia


Ó universo, que arrelia!

Que loucuras cingem

o mundo em partes doidivanas


sim, são religiões insanas

e gozam do maior prestígio

junto ao povo que se esfaima


e quem discorda é do diabo

é o próprio mal!

ó, inferno astral


me fez nascer no rabo

da história

venha nova era


venha a glória

de um mundo sem religião!

onde a terra seja mera

esfera na imensidão!

Pastiche de Gregório de Mattos

 

O que falta a essa nação? — revolução!

Há quem se lhe oponha? — gente medonha!

O que falta para acontecer? — a gente fazer!

 

Nas terras do Brasil

Correram os dias

Verdadeiro mandril

E o povo sofria!

 

O que é uma revolução? — o povo de arma na mão!

A conjuntura te aborrece? — me entristece!

E o que você espera? — uma nova era!

 

Já o boca do inferno

Cantava na colônia,

Com um tom terno,

Que essa terra é medonha!

 

Qual o primeiro passo? — Dominar o aço!

E depois? — unir os dois!

Quais deles? — o povo e o alferes

 

Chegamos em ponto de virada:

Ou agimos agora

Ou a hora será passada

Ajamos sem mais demora!

 

Você é subversivo!  O mundo que é repulsivo!

Você quer a guerra! — Ela já nos espera!

Você quer a morte! — Prefiro tentar a sorte!

 

Povos do mundo,

Bilionários existem.

Tomar do rico iracundo

Não mais hesitem!

 

O presente é o momento.

Construir um futuro

Sem tanto tormento

— este é meu urro!

terça-feira, 7 de dezembro de 2021

O caminho

 ele acha que é da Europa!

- pobre mestiço,

fique com o que é teu

lhe chama de estrupício

o nobre europeu


Europa velha

velha e medonha

de nossa terra espera

fazer-se ainda mais dona


Ele acha que é gringo

pobre criolo,

nesse bingo

te passam o rolo


ele pensa que é branco

mas, na beira do barranco,

no passado

meteu-se com negro carranco


Esta terra acha que é aceita

só se for como escrava

engordar a receita

de quem lhe tira a escalpa


Há nós só um caminho

aceitar o sertão,

o sul do mundo, o indiozinho

e fazer revolução


Ribeirão Preto, Primavera de 2021

sexta-feira, 29 de outubro de 2021

Cuidado com quem se alia: o grou e o lobo, fábula de Fedro

 Qual recompensa merece o ímprobo desejar [o bem]

Duas vezes peca: primeiro, pois ajudaste um indigno

Ir impune porque doutro modo não poderia

Osso devorado pregou-se na garganta do lobo

Vivendo grandes dores singulares começou

a aliciar com ofertas para que se extraísse dele o mal.

Finalmente foi persuadida com os juramentos o grou,

Na garganta [do lobo], confiando, o comprimento de  de seu pescoço [enfiou]

perigosamente fez a cura do lobo

De quem exigiu o prêmio:

"Tu és ingrata", disse [o lobo], "veja que sua cabeça

incólume retirou [de minha garganta] e ainda exige recompensa".