quinta-feira, 16 de novembro de 2023

Trenodia para Gaza

 Quando as luzes escapam,

 e o ar sufoca

Quando o clarão-trovão

É a bomba cadente

E o aroma que impera

É carne torrada.

Já não se distingue

Escombro e cremação:

 os ossos são pó

Os músculos, farelo.

Sobre os destroços

A ave negra paira

Banquete com gordura racional.

David cresceu

Já não combate gigantes:

Esmaga o fraco

Sob as asas da águia do novo mundo.

O sal das lágrimas

Se mistura com as areias do deserto

Os corpos se amontoam e apodrecem

Criando o concreto maligno da indiferença.

Na hora mais escura,

As luzes são da vela carpideira,

A música o estampido ruidoso

Que anuncia a permanência e expansão

Do mundo todo errado.

Aqui choramos, Gaza,

Teus mortos.

Aqui sentimos a tua dor.

Mas, se o desespero leva ao desespero,

É no crepúsculo e na queda

Que o destino distingue

Aqueles que devem permanecer

E aqueles cuja própria duração é vergonha.

A marcha dos fatos é implacável.

A história a contra pelo

Não precisaria ser feita

No alicerce dos cabelos dos mortos.

Se é necessário não esmorecer,

Se o grito de dor resta preso

Na garganta degolada,

Possa da dor

Nascer um broto resistente

Um alívio e auspício

De um futuro descarregado de dor.

O passado dura muito tempo

Mas o porvir é infinito.


S.C., Queimavera de 2023

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