Quando as luzes escapam,
e o ar sufoca
Quando o clarão-trovão
É a bomba cadente
E o aroma que impera
É carne torrada.
Já não se distingue
Escombro e cremação:
os ossos são pó
Os músculos, farelo.
Sobre os destroços
A ave negra paira
Banquete com gordura racional.
David cresceu
Já não combate gigantes:
Esmaga o fraco
Sob as asas da águia do novo mundo.
O sal das lágrimas
Se mistura com as areias do deserto
Os corpos se amontoam e apodrecem
Criando o concreto maligno da indiferença.
Na hora mais escura,
As luzes são da vela carpideira,
A música o estampido ruidoso
Que anuncia a permanência e expansão
Do mundo todo errado.
Aqui choramos, Gaza,
Teus mortos.
Aqui sentimos a tua dor.
Mas, se o desespero leva ao desespero,
É no crepúsculo e na queda
Que o destino distingue
Aqueles que devem permanecer
E aqueles cuja própria duração é vergonha.
A marcha dos fatos é implacável.
A história a contra pelo
Não precisaria ser feita
No alicerce dos cabelos dos mortos.
Se é necessário não esmorecer,
Se o grito de dor resta preso
Na garganta degolada,
Possa da dor
Nascer um broto resistente
Um alívio e auspício
De um futuro descarregado de dor.
O passado dura muito tempo
Mas o porvir é infinito.
S.C., Queimavera de 2023
Nenhum comentário:
Postar um comentário