Não,
Não é a fome que me preocupa,
Mas a sede.
A sede de sangue.
Intensa, fatal.
A obsessão com o sofrimento
O modo como se organiza o mundo
Para a dor.
Não há o que baste para saciar
Essa sanha.
Melhor seria se nosso dever fosse
O gozo.
Gozo intenso, gozo forte
Fruir fundo a vida,
Essa brisa que nos leva
Esse furacão que arrasta
Essa tempestade que assola.
Os negadores,
Os anacoretas do desconforto,
Os senhores do tormento,
Os profetas dos seres imaginários,
Os escravos do papel,
Os duques da moeda:
Eis o inimigos que não gozam.
Quando o humano aproveita,
É o próprio tempo que para.
É o tecido do universo
Que conosco vibra.
É a vida mesma que pulsa.
Não,
eles não gozam.
RP, inverão de 2024
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