segunda-feira, 22 de agosto de 2022

A filosofia de Bolsonaro

 

A filosofia de Bolsonaro

Bolsonaro’s philosophy

Felipe Luiz

UNESP-Marília

2022


Resumo: O objetivo do presente trabalho é analisar algumas produções teóricas do autodeclarado filósofo brasileiro Olavo de Carvalho, considerado ideólogo do bolsonarismo e pensador então influente nos círculos governamentais. Para tanto, a produção de Olavo é analisada sobre um duplo viés enquanto teoria da conspiração e discurso de ódio. No final, aponta-se que Olavo é propagador de um novo misticismo, calcado nas fake news e no discurso anti-ciência, e que é tarefa da filosofia combater esse anti-iluminismo.

Palavras-chave: Olavo de Carvalho; Anti-iluminismo; discurso de ódio; teoria da conspiração

Abstract: The present work’s aim is to analyze some theorical productions of the self declarad Brazilian philosopher Olavo de Carvalho, taken as ideologist of bolsonarism and influent thinker into the governamental circles. For that, the production of Olavo is analyzed in a double bias, as conspiracy theory and as hate speech. In the end, we point out that Olavo is a difusor of a new misticism, based in fake news and in an anti-science discourse, and that is a philosophy job to fight out angainst these contra-Enlightenment.

Keywords: Olavo de Carvalho; contra-enlightenment; hate speech; conspiracy theory.





Introdução

Uma coisa importante que aprendemos com o filósofo francês Michel Foucault foi que poder e saber não estão divorciados. Não é, a bem da verdade, uma asserção nova, mas tampouco é um truísmo. Se recuarmos bastante, já Platão e suas diatribes com os sofistas apontavam nessa direção. Se recuarmos ainda mais, veremos que a própria noção de arché, esse verdadeiro ponto arquimediano que buscam os filósofos, guarda dois sentidos, tanto o de princípio, quanto o de comando. Marx apontava também esse casamento entre poder político e ciência, assim como vários outros pensadores. Mas com Foucault essa relação é melhor explicitada, chegando ao paroxismo de se afirmar que não há poder sem saber, nem saber sem poder. Claro, Foucault tratava de um saber menos grandiloquente que aquele que trataremos aqui, mas nem por isso menos pungente. Temos insistido nas relações entre filosofia e poder político em vários textos e este será mais um deles

Chega, portanto, a hora de exercitar outra posição de Foucault e realizar uma pequena ontologia do presente, desta vez voltados à nossa tão castigada terra brasilis. Afinal, há uma filosofia de Bolsonaro?

A violência parece prescindir da filosofia; mas é como as ilusões de uma mente cansada: só parece. A filosofia, enquanto atividade humana, está presente em qualquer ato que se realize. Ela não é apanágio dos sábios, mas, democrática, puro fruto das massas. Todo ato, toda atitude pressupõe uma filosofia, mesmo que o agente a desconheça. Certamente, alguém já abordou filosoficamente dada ação, já que, entre o céu e a terra, a razão não se cansa de romper as barreiras históricas e de se reinventar.

A filosofia popular, que tanto agradava a Porchat Pereira, está presente nas conversas, nas posturas, nos atos, nas crenças e, também, na política. Nesse sentido, Bolsonaro possui uma filosofia, como qualquer outro mortal. Mas, em seu caso específico, essa filosofia, uma filosofia da ação certamente, lhe antecede e, com segurança, lhe há de se suceder, perenes que são as condições que a geraram. A menos que uma verdadeira revolução se processe no país e as condições de emergência desse gênero de pensamento se alterem na raiz, outros Bolsonaros virão, outros políticos com posições semelhantes e o mesmo apelo surgirão e a espiral na qual nossa terra de sabiás adentrou repetirá erros e acertos.

A filosofia de Bolsonaro antecede o próprio, na medida em que aquele que é apontado como o principal ideólogo do governo, o ensaísta (ou será filósofo? Responderemos ao final) Olavo de Carvalho escreve desde antes de Bolsonaro e, se não tivesse falecido enquanto escrevíamos este texto, continuaria escrevendo depois.

O objetivo desse trabalho é analisar as posições filosóficas de Olavo naquilo que seja pertinente para a compreensão do Brasil atual e que ajude a desenhar o que pensa Bolsonaro e quais as bases teóricas do bolsonarismo, enquanto fenômeno político aterrado no Brasil e seus conflitos. Para tanto, analisaremos uma série de livros de Olavo e alguns poucos comentadores já que Olavo, outsider maior do pensamento brasileiro, segue restrito no que tange às publicações a seu respeito.



Retrato e posição do polemista

A primeira coisa que salta aos olhos do leitor de Olavo é como ele está correto em muitas posições. Explique-se: o tom de Olavo é um anticomunismo virulento, que enxerga por toda parte um plano das esquerdas para o domínio global. Mas, boa parte daquilo que ele afirma das esquerdas, se aplica perfeitamente aos seguidores de Bolsonaro. Vejamos alguns exemplos. Em Tudo que você precisa saber para não ser um idiota ele afirma que:

No Brasil de hoje, todos os “formadores de opinião” mais salientes, sem exceção visível — comentaristas de mídia, acadêmicos, políticos, figuras do show business — pensam por figuras de linguagem, sem a mínima preocupação — ou capacidade — de distinguir entre a fórmula verbal e os dados da experiência. Impõem seus estados subjetivos ao leitor ou ouvinte de maneira direta, sem uma realidade mediadora que possa servir de critério de arbitragem entre emissor e receptor da mensagem. A discussão racional fica assim inviabilizada na base, sendo substituída pelo mero confronto entre modos de sentir, uma demonstração mútua de força psíquica bruta que dá a vitória, quase que necessariamente, ao lado mais barulhento, histriônico, fanático e intolerante (CARVALHO, 2013, p. 351)

Ora, são justamente os seguidores de Bolsonaro que gritam mais alto e repetem, à exaustão, o mesmo gênero de pensamentos, muitos dos quais originados em Olavo, com uma série de fórmulas prontas que só esperam a claque, já igualmente convertida, para se afirmar vitoriosos. Foi assim que, em 2018, falsidades repetidas em mensagens instantâneas conseguiram hipnotizar o país, em nome de uma luta contra a corrupção que se mostrou, na verdade, cortina de fumaça para atos inescusáveis.

Em outro trecho, Olavo critica os fanáticos, afirmando que eles deixaram-se dissolver em grupos, de onde tiram conforto e aceitação, em troca de submeter-se a um líder, considerado quase-divino, acima da história (CARVAHO, 2013, p. 84). Não é precisamente esse o status concedido a Bolsonaro no meio de suas hostes? De um líder invencível, incorruptível, grande enxadrista da política, que tem um plano preparado para tudo?

Examinemos outro trecho:

Já observei mil vezes que no Brasil de hoje a linguagem da elite soi disant alfabetizada se reduziu a um sistema formal de pressões e contrapressões, onde as palavras valem pela sua carga emocional acumulada, com pouca ou nenhuma referência aos dados correspondentes na experiência real de falantes e ouvintes (CARVALHO, 2013, p. 176)

Ora, é exatamente dessa maneira que se portam os olavistas, enxergando em um suposto comunismo ubíquo uma ameaça iminente para o Brasil, sentimento esse alimentado pelo próprio Olavo a todo instante.

Em outra passagem, o escritor afirma: "A facilidade mesma com que uma teoria se converte em sua contrária é louvada como prova do mais alto mérito intelectual: o que importa não é a “veracidade”, mas a “fecundidade”" (CARVALHO, 2013, p. 189). Olavo defendia um governo de direita, que lutasse contra a corrupção e combatesse as esquerdas. Repete a todo instante que o comunismo matou milhões de pessoas, etc. Mas, na gestão da pandemia no Brasil, foi o governo apoiado por Olavo que foi culpado, direta ou indiretamente, pela morte de centenas de milhares de brasileiros.

Em outro trecho, ele assevera:

Desde a decapitação de Luís XVI o movimento revolucionário mundial vive de proxenetar seus próprios crimes e vexames, atribuindo-os às suas vítimas, a circunstâncias fortuitas ou à ação de traidores. Tantas confissões repetidas da incapacidade de governar o curso das coisas já bastam, é claro, para impugnar a presunção do poder absoluto e infalível de forjar um futuro melhor." (CARVALHO, 2013, p. 232)

Ora, afirmar que não governa por culpa da esquerda ou do Supremo Tribunal Federal é o expediente de praxe dos olavistas e bolsonaristas. Mais uma vez, Olavo descreve nos outros as ações que seus apoiadores executam.

Noutro recorte diz nosso autor (2013):

A Bíblia, mito fundador da civilização ocidental, está no fundo de toda a nossa compreensão de nós mesmos e de todas as nossas possibilidades de ação. Fora disso, não há senão ideologia, erro, loucura. A desorientação radical da sociedade brasileira vem da ligação tênue, cada vez mais distante, cada vez mais evanescente, que nossa história tem com as raízes bíblicas da civilização do Ocidente. Tanto perdemos a compreensão do nosso mito fundador que chegamos a querer substituí-lo por mitos tribais, indígenas ou africanos, belos e sugestivos o quanto sejam, mas ineptos a dar forma a uma civilização vasta e complexa. Mas hoje descemos abaixo dos mitos tribais, que, limitados o quanto fossem, tinham a sua verdade. Já não queremos nem mesmo construir o Brasil em cima de verdades parciais. Queremos a mentira total. Queremos uma ideologia." (p. 328)

Olavo descreve perfeitamente o que ocorre no Brasil desde antes de 2013: como a mentira foi elevada à categoria de verdade institucional e a verdade, no caso científica, foi escanteada em benefício de um projeto de poder, movimento este acentuado após as eleições de 2018. Mas, como ele próprio aponta: “É a receita infalível da propaganda revolucionária: ‘Xingue-os do que você é, acuse-os do que você faz’" (CARVALHO, 2013, p. 296), aliás, uma falsa citação de Lênin.

Olavo se coloca na posição de um vate: a verdade está oculta e só ele a enxerga. Reaviva assim a figura literária do poeta-profeta, sem os dotes literários que a posição exige.

A destruição completa da alta cultura, num estado catastrófico de favelização intelectual onde a função de respiradouro para a grande circulação de ideias no mundo, que caberia à classe acadêmica como um todo, é exercida praticamente por um único indivíduo, um último sobrevivente, que em retribuição leva pedradas e cuspidas por todo lado, especialmente dos plagiários e usurpadores que vivem de parasitar o seu trabalho (CARVALHO, 2013, p. 237)

Neste texto, de 2011, fica clara a psicologia de Olavo: ele seria o cavaleiro solitário dos conservadores contra a conspiração comunista de destruir as bases mesmas da civilização ocidental. Apresentada a figura, passemos a outros aspectos de seu pensamento.

Teoria da conspiração

O tom profético de Olavo faz uma mixórdia entre filosofia e senso comum, alimentado por publicações hegemônicas da direita tupiniquim, como Veja, Folha de São Paulo e Estadão. Foi a grande mídia que nutriu Olavo, abrindo-lhe portas e ecoando sua voz que, com o advento da internet, saiu do controle, a ponto de Olavo enxergar na mídia um reduto de comunistas empenhados na revolução cultural que ele afirmava estar em processamento. O tema da esquerda que controla tudo, chegando mesmo ao ponto de se afirmar que os bilionários do mundo são comunistas, indica um pénchant de Olavo pelas teorias da conspiração.

Como observa Byford (2011) os teóricos da conspiração nunca admitem que o são, e o mesmo faz Olavo, para o qual a mancomunação da esquerda para dominar o país e tolher a voz de uma direita tornada vítima é tão real quanto o brilho do sol. É vão buscar raízes psicológicas para esse traço de Olavo, o que somente seu psiquiatra, se é que ele frequentava algum, poderia explicar. Além disso, ainda que fosse provado que Olavo era um monomaníaco, isso não explicaria como suas posições encontraram eco na sociedade brasileira, a ponto de terem ajudado a eleger um presidente.

Seguiremos Byford (2011) e veremos as teorias da conspiração, como aquela que advogava Olavo, como uma tradição de explicação, tradição esta já velha de muitos séculos. Ainda durante o processo da Revolução francesa surgiram pensadores dispostos a explicá-la enquanto artimanha de um grupo coeso e secreto, os Iluminatti e a Franco-Maçonaria, empenhados em acabar com o cristianismo, o Antigo regime e as bases mesmas do mundo ocidental. O tema da decadência do Ocidente é também muito velho e muito atual , e essa rama política somente o trabalhava mesclando-o com novos tropos.

Durante o século XIX ganhou força as velhas narrativas segundo as quais os judeus conspiravam contra o mundo cristão, como teriam conspirado contra Cristo ele mesmo, e que se preparavam um golpe visando abolir a cristandade. Esse discurso de ódio contra judeus, sobre o qual tornaremos, ganha sua força máxima no entreguerras, deixando sempre atrás de si um rastro de sangue. Outros personagens ocuparam o papel de conspiradores, como asiáticos, o clube Bildeberg, muçulmanos, a Nova Ordem Mundial, etc.

No caso brasileiro, depois de uma ditadura militar sangrenta e de seus crimes, imprescritíveis por sinal, a esquerda ganhou um novo fôlego, mas muito longe de se tornar a força hegemônica. Ao contrário, as forças que governaram todo o país desde a redemocratização foram segmentos de um liberalismo social, mais ou menos destacado, mas sempre mantendo a economia de mercado e a democracia liberal burguesa como foco. Do ponto de vista econômico, o país não conheceu outro regime em sua história além do capitalismo. Do ponto de vista político, a esquerda sempre foi força política escanteada e, durante os governos do PT, governava com um Congresso de maioria conservadora, sempre seguiu os mais estritos cânones do republicanismo, ao acatar ordens judiciais e decisões políticas, ainda que contrárias aos seus interesses, privatizando empresas, etc. As tímidas medidas de inclusão social que o PT pôs em prática são estritamente neoliberais, até mesmo recatadas em relação a este.

Segundo Olavo, no entanto, o PT seria um perigoso partido comunista, com ramificações em todas as esferas da vida social brasileira, prontos para implantar uma ditadura socialista no país. Ele afirma que a esquerda brasileira teria se tornado gramsciana e estaria pondo em prática um plano de revolução cultural, destinado a ganhar os corações dos brasileiros, momento que antecederia a tomada do poder propriamente falando. Olavo não oferece provas para isto e nem precisa. Como mostra Byford (2011) uma teoria da conspiração não demanda provas, ela se retroalimenta e, até mesmo, provas que a contradigam são encardas em um modelo que somente fortalece a própria narrativa conspiratória. Ou seja, ainda que não haja indícios de que tal conspiração esquerdista ocorra e, ao contrário, o fato de que os governos do PT tenham feito alianças inclusive com setores evangélicos mais conservadores, sem falar da própria CNBB, Olavo pensa que bilionários tupiniquins e membros do partido estariam empenhados em destruir a fé cristã.

Avançamos mínimos em matérias de direitos humanos, convenções contra a tortura, reconhecimento da dignidade da pessoa humana, são tratadas como ofensivas comunistas contra a Bíblia. Em uma palavra, um delírio. Mas um delírio perigoso, já que engaveta conquistas civilizacionais brasileiras como perigo à nossa própria existência enquanto formação social.

Uma das fontes de Olavo são escritores fascistas ou criptofascistas, como René Guénon e Julius Évola. Para esses autores, o mundo moderno, com todas as benesses materiais e de pensamento que trouxe, seria pernicioso, já que outros períodos, quando a fé orientava toda a vida social, seriam preferíveis. Não à toa, as teorias da conspiração se formam primeiro contra a Revolução francesa e a ideologia que a sustentava, o Iluminismo. Olavo não é um liberal, preocupado com igualdade de todos perante a lei ou com a dignidade da pessoa humana, ainda que o afirme. Olavo é um reacionário antiiluminista, em uma cruzada contra o mundo moderno, se valendo de meios que esse mesmo mundo moderno disponibiliza para lutar contra ele.

Em termos lukácsianos, Olavo é um irracionalista. O velho magiar dá como características do irracionalismo: “rebaixamento do entendimento e da razão, afirmação sem crítica da intuição, teoria do conhecimento aristocrática, renúncia dos progressos sociais e históricos, criação de mitos, etc.” (LUKÁCS, 1962, p. 15, tradução nossa). Olavo defende verdades reveladas, ou seja, que aceitemos proposições intuitivas como verdades óbvias; além disso, recusa o mundo moderno; por fim, criou o mito do domínio da esquerda na sociedade brasileira. Claro, a definição de Lukács guarda problemas, como o patente teleologismo histórico, com o qual não concordamos, de modo que fazemos o presente apontamento a título de ilustração. Para os marxistas e congêneres, uma história do irracionalismo brasileiro não pode passar sem um capítulo especial dedicado a Olavo, o mestre contemporâneo dessa atitude em terras tropicais.

O delírio conspiracionista de Olavo chega ao ponto de afirmar que haveria uma conjuração homossexual (“gayzista”, em seus termos) que se infiltraria nas igrejas e cometeria atos de pedofilia tão somente a fim de desacreditar as instituições religiosas frente a sociedade (CARVALHO, 2013). Ou seja, a comunidade LGBT, já bastante marginalizada, seria uma elite tão bem organizada a ponto de conseguir secretamente se organizar e atuar nas distintas agremiações religiosas. Dados são inúteis, como mostra Byford (2011): quem quer acreditar, acredita.



Discurso de ódio

Esse ponto nos conduz ao presente tópico, marcando outra característica do pensamento político de Olavo, o discurso de ódio. Segundo Carlson (2021)

(…) discurso de ódio deveria ser definido como uma expressão que busca difamar um indivíduo por suas características imutáveis, como sua raça, sua etnicidade, origem nacional, religião, gênero, identidade de gênero, orientação sexual, idade ou deficiência. Eu uso o termo “expressão porque o discurso de ódio inclui não somente palavras ditas, mas também símbolos e imagens que degradam pessoas pelas qualidades com as quais nasceram (p. 9, tradução nossa).

Olavo dedica páginas e páginas a atacar a comunidade LGBT e defender uma moralidade reacionária, tornando a defesa dos direitos LGBT, direitos tão básicos, com expressão de suas afinidades naturais, em uma suposta posição política, o assim dito gayzismo. Os LGBT formariam um poderoso lobby, uma verdadeira maçonaria que contaria com membros infiltrados em todas as esferas da vida social do Ocidente, capazes de influenciar pensamentos, posturas e ações.

Haveria, além disso, um componente tão maligno no movimento LGBT, que este teria criado uma doutrina para influenciar crianças na idade mais tenra a se tornarem LGBT através da educação e do movimento de professores. Esta posição seria expressa na assim chamada ideologia de gênero, a qual afirmaria que qualquer um pode ser qualquer coisa, enquanto o correto, diz Olavo, seria se adequar ao sexo biológico e funções designadas na Bíblia aos sexos. Às mulheres, os papéis tradicionais; aos homossexuais, o “armário”; tudo em nome da defesa da família contra o perigo comunista.

Que políticos conservadores tenham se assumido LGBT em várias partes do mundo, que a própria Igreja Católica tenha feito chamados contra a violência a esse segmento e que o Novo Testamento não traga palavras contra a prática, para a qual sequer existia termo preciso na época, pouco importa. A conspiração LGBT e feminista (chamada de “feminazista”) visaria acabar com as bases da sociedade, preparando o terreno para o advento do comunismo. Tudo isso seria condensado no “marxismo cultural”, uma guarda-chuvas teórico que coloca no mesmo balaio autores com diferenças tão grandes como Foucault e Marx, mas que estariam empenhados em destruir a família cristã.

Carlson (2011) observa como esse tipo de discurso que diminui a dignidade humana de grupos sociais é anteparo para a violência física, já que empodera o ódio. Caso acrescentemos na definição dada acima o ódio contra outras formas de pensamento, chegamos em uma posição onde o olavismo, a mixórdia de ideias equivocadas calcadas em Olavo, se mostra como um claro discurso de ódio. Basta pensarmos no verdadeiro linchamento virtual que sofre a esquerda e qualquer setor minimamente progressista no Brasil atual, linchamento este que, por vezes, descamba para violência física, assédio e até mesmo assassinato. O olavismo alimenta uma cultura do ódio no país, cujo desfecho, caso não seja contido, não pode terminar bem. O resultado do desprezo e do ódio às minorias, à democracia e a tudo quanto tenha o mínimo aspecto de modernidade, como a ciência, são quase 700 mil mortos oficiais (número que pode ser muito maior) por COVID-19 no momento em que este texto é escrito (março de 2022). Sem contar as vítimas de LGBTfobia, feminicídio, e o genocídio contra os povos indígenas. Todos os setores mais retrógrados da sociedade brasileira se sentiram empoderados diante da difusão do olavismo, e como que autorizados a transformar a aspereza das palavras em atos daninhos e até mesmo criminosos.



E a filosofia?

Conforme dito, Olavo é anti-iluminista. Definir Iluminismo passa por distinguir, no período em questão, as principais correntes envolvidas. Cassirer (1932), em seu famoso estudo sobre o período, não faz isto; ele toma os pensadores mais moderados como a vitrine do movimento e deixa de fora as vertentes radicais. É exatamente essa vertente que Israel (2001) considera. Assim, pode-se considerar que Cassirer, bem como Gay (1966) analisam o Iluminismo mainstream, o Iluminismo moderado, e não as capas mais avançadas do movimento. Por isso, Cassirer (1932) pode dizer que o Iluminismo não era contra a religião nem necessariamente materialista, mas, sim, se opunha à superstição. Do mesmo modo, ele afirma, no que aliás Olavo (CARVALHO, 1994) o segue, que o mecanicismo não era a filosofia dominante do período, mas restrito a determinados setores, ou seja, ao radical Enlightenment de que nos fala Israel (2001).

A fonte primeiro dos radicais do Iluminismo é Espinosa. Este, como se sabe, forjou uma filosofia monista, anti-superstição e que não divide deus e natureza. Mecanicista, Espinosa negava os milagres e elaborou um forte criticismo das Escrituras, opiniões que, na época, poderiam resultar em punição até mesmo na liberal Holanda, onde ele vivia. A filosofia de Espinosa foi proibida em vários países no período, e a acusação de espinosismo marca maior de perseguição. Em fato, ser taxado de espinosista significava ser considerado uma pária social, alguém atentando contra os fundamentos mesmos da sociedade, já que a crença em um deus transcendente, que recompensaria os bons e puniria os maus, e cuja maior prova de existência seriam os milagres narrados nas Escrituras e negados por Espinosa —, era tomada como guardiã da paz social, do reinado dos reis e da pregação dos curas. Muitos pereceram no período por defenderem posições progressistas ou minimamente divergentes da religião majoritária, em um período de absolutismo, teocracia e desmandos.

Sem esses verdadeiros campeões do livre pensar as sociedades ocidentais contemporâneas seriam bem diferentes. Provavelmente, a ideia de uma democracia com múltiplas vozes sendo ouvidas, as noções de tolerância, o reconhecimento da igualdade de todos perante a lei, a separação entre Estado e igreja e o direito de divergir da maioria não seriam tal qual hoje se dão. Sem contar os incríveis avanços em termos materiais que sentimos desde o Iluminismo, verdadeiros fundadores do mundo moderno.

René Guénon foi um pensador místico francês que enxergava uma decadência no mundo moderno, conforme dito. Para ele, a perda de centralidade dos saberes tradicionais, como a alquimia e a astrologia, marcaria o mergulhar da sociedade contemporânea em um abismo. Por isso, Guénon estudou as sociedades tradicionais da época (primeira metade do século XX), nas quais o espírito moderno não tinha chegado, como a indiana (de castas) e a muçulmana (teocrática). Outro traço que, para ele, marcaria o declínio do Ocidente seria a perda do papel de deus e da fé enquanto pontos focais dessas sociedades, o que as arrastaria para um mar de lama. Por isso, Guénon se converteu ao islamismo e foi terminar seus dias no Egito muçulmano (GUÉNON, 2013).

Diz Guénon (2013) que “o espírito especificamente moderno não é, com efeito, como nos o mostraremos mais a frente, nada outro senão o espírito antitradicional” (p. 17). Olavo recomendava Guénon para os adeptos de seu curso e o tinha como uma de suas principais influências. Olavo é, assim, amigo do rei, partidário de uma sociedade antimoderna. É a revolta da intuição contra a razão, a revolta dos mais reacionários partidários da antiga ordem contra o novo mundo que se perfila à nossa frente. Não à toa, criptofascista, já que, para os fascistas, o passado sempre é melhor que o presente e o melhor que o futuro pode nos proporcionar é o reviver do passado, ainda que em novas bases.

O problema é que esse passado que se quer reviver é um passado de violência, autoritarismo, medo, desconfiança e repressão. Um passado onde mulheres não tinham vida pública, negros eram vendidos em mercados, LGBT’s eram queimados vivos e qualquer pensamento dissidente punido. Um passado onde não haviam direitos trabalhistas e liberdade de pensamento era um privilégio ao qual nem todos podiam se dar o luxo. Um passado que custou muito sangue para que nos livrássemos e que pode ser contemplado em países como Arábia Saudita. Um passado que a maioria dos brasileiros, acreditamos, realmente não deseja.



Conclusões

Olavo é a expressão, no campo do pensamento, das camadas mais reacionárias da sociedade brasileira: neonazistas, integralistas, fascistas, anarcocapitalistas, saudosistas da ditadura militar. Enquanto servia para atacar os governos de centro-esquerda do PT, encontrava voz na grande mídia. Depois da massificação da internet, migrou para as plataformas digitais e, aos poucos, acumulou forças, formando gerações de pessoas pseudo intelectualizadas e, ao mesmo tempo, radicalizadas em suas posturas de extrema-direita. O fato da maior parte da mídia ser liberal e apoiar a ordem internacional do pós-guerra, com seu lastro em direitos humanos, tornou os contrários a esta ordem vozes minoritárias, o que alimentava o discurso de Olavo de que ele seria um paladino da direita contra a ameaça esquerdista.

Caso leiamos Locke, vemos ali um liberalismo muito diferente daquele praticado hodiernamente. Locke ecoa os interesses de capas sociais ciosas por mais poder político e em luta com o Antigo regime e suas bases feudais. Em outros termos, Locke expressa uma posição de uma burguesia ainda revolucionária. Olavo expressa os interesses de camadas que foram tolhidas pelas vagas revolucionárias de séculos atrás. Por isso, para ele, os direitos humanos, expressão de um liberalismo ilustrado, se constituem em “pensamento esquerdista”. Se vivêssemos no século XVIII, Olavo estaria contra o fim do Antigo regime e a separação entre Estado e Igreja.

Diz Olavo que

Ideologia é isso: um discurso que, partindo de uma falsa visão do presente, atrai os homens para a construção de um futuro que, depois de pronto, é feio demais para que suportem reconhecer nele a obra de suas mãos. Por isso os desiludidos de ideologias criminosas raramente se apresentam como aquilo que são: cúmplices fracassados de um crime sem recompensa. Apresentam-se como vítimas traídas pelo destino. Falseiam o passado como falsearam o futuro (CARVALHO, 2013, p. 328-329)

É impressionante como as palavras de Olavo, destinadas a combater a esquerda, se adéquam tão bem a seu próprio percurso. Olavo, que ganhou fama maior após as Jornadas de Junho, saindo das trevas da internet para as grandes editoras e livrarias, ajudou a dar consistência teórica ao bolsonarismo, fornecendo uma cabeça àquilo que só tinha mãos. Um pensamento, quando se apropria das massas, se torna força política. As Jornadas de Junho, que eram, na prática ,manifestações contra o governo que demandavam mais direitos, foram apropriadas pela direita. Havia uma correlação de forças desde o fim da ditadura empresarial-militar que colocara a esquerda em uma posição de combate, em um crescendum que terminou nas eleições dos ultracautelosos governos do PT. As Jornadas quebram essa situação e colocaram a direita na ofensiva. Por uma série de manobras, que envolvem, em fato, conspiração de derrotados, lawfare, interesses escusos e, certamente, dólares, construiu-se um governo antipovo, que somente pôde ganharas eleições a partir de fraudes e de uma população constantemente exposta aos malfeitos do PT, através de uma campanha orquestrada pelos bilionários do país, que buscavam, a todo custo, maximizar seus lucros. O resultado foram as eleições de 2018, onde Olavo tinha candidato.

O governo deste candidato, desastroso como não poderia deixar de ser, acabou por escantear Olavo, malgrado o pensamento deste o abastecesse com um fundo ideológico que a família presidencial, deficitária em termos cognitivos, não seria capaz de prover. Olavo, como Dr. Frankenstein, se assustou com a criatura, a qual constantemente atiçava para medidas aventureiras, como um golpe de Estado, mas que permanecia fiel aos militares que, no fim das contas, detém a vice-presidência. Assim, renegou ele sua criação e, opositor das vacinas e da Pepsi-Cola, provavelmente terminou morto por uma doença para a qual já existiam medidas profiláticas. A profecia de Olavo, exposta acima, cumpriu-se. Pelo menos uma.

Olavo trabalhava com temas de filosofia, mas não era filósofo. Não pelo caso de sua ausência de educação formal, mas pelo fato do trato que dava aos textos, faltando-lhe rigor, linguagem adequada e reconhecimento dos pares. Byford (2011) afirma que é inútil e até mesmo pernicioso debater com teóricos da conspiração, o que termina por considerá-los interlocutores sérios. O livro dele data de uma década atrás; quanta coisa mudou em uma década. As teorias da conspiração chegaram à Casa Branca, ao Planalto, dentre outros palácios presidenciais. Criticar Olavo significa mostrar como sua “teoria” é desprovida de bases, meios, e que só possui fins: restaurar um mundo caduco, manter privilégios de super-ricos, matar pessoas, acabar com a diversidade humana. A ausência de interlocutores foi sentida como superioridade argumentativa pela sociedade, o que redundou na força que o olavismo, parte intelectualizada do bolsonarismo, ganhou, trazendo-nos à presente situação.

Conforme dito, para Cassirer, o alvo primeiro do Iluminismo foi a superstição, o misticismo, em uma Europa que ainda queimava pessoas na fogueira por bruxaria. Olavo perpetua o novo mistiscismo, calcado nas inúmeras fake news e delírios. Assim como naquele período, o principal combatente contra o novo misticismo, turbinado por mensagens instântaneas e poderosos interesses, é a filosofia. Assim, esperamos dar nossa contribuição à luta contra esse misticismo ao mostrar como Olavo nada mais foi senão um ideólogo, defensor do indefensável, sem bases para afirmar o que afirmava, e que somente acertou em suas análises caso estas sejam dirigidas contra ele mesmo. Afinal, ate relógio quebrado acerta as horas duas vezes por dia. E Olavo era um baita de um relógio quebrado.



Bibliografia



BYFORD, J. Conspiracy Theories: A Critical Introduction. United Kingdon: Palgrave Macmillan, 2011

CARLSON, C.R. Hate Speech. Cambridge/London: MIT Press, 2021

CARVALHO, O. de. A Nova era e a revolução cultural - Fritjof Capra & Antonio Gramsci. S.l.: s.e., s.d. (1994)

________________. CARVALHO, O. de. O Jardim das Aflições - De Epicuro à Ressurreição de César. RJ: Topbooks, 1998

________________. O mínimo que você precisa saber para não ser um idiota. RJ: Record, 2013

CASSIRER, E. Die Philosophie der Aufklärung. Tübingen: Mohr Siebeck, 1932

FORTES, L.R. S. O Iluminismo e os reis filósofos. São Paulo: Brasiliense, 1986, 4ª ed.

GAY, P. The Enlightenment: An Interpretation, Vol. 1 The Rise of Modern Paganism. USA: Alfred A. Knopf, 1966

GUÉNON, R. La crise du monde moderne. Paris: Gallimard, 2013

ISRAEL, J.I. Radical Enlightenment. Philosophy and the Making of Modernity 1650-1750. USA: Oxford University Press, 2001

LUKÁCS, G. Die Zerstörung der Vernunft. Berlin: Luchterhand, 1962



terça-feira, 16 de agosto de 2022

Filosofia e ciência dos meios

 

Filosofia e ciência dos meios

Philosophy and science of mediums

Felipe Luiz



Resumo: O presente trabalho se propõe a debater alguns termos-chave da história da filosofia e respectivas disciplinas destinadas a estudá-los. Os termos são archē, logos e telos e as disciplinas a archelogia, mesologia e teleologia, sendo as duas primeiras propostas nossas para o debate. Faz-se um inventário de sua utilização e se propõe novas formas de utilização destes termos, passando por momentos cruciais da história da filosofia. Além disso, trabalha-se com a disciplina da Estratégia entenida em um sentido filosófico. Por fim, debate-se uma filosofia da estratégia e se propõe uma filosofia de guerra, distinta da filosofia da guerra, como forma de se encaminhar a discussão.

Palavras-chave: archelogia, mesologia, teleologia, estratégia, strategion, skopologia

Abstract: The present work proposes itself to discuss some key terms in the history of philosophy and the related discipline destined to study them. The terms are arche, logos and telos, and the disciplines are archelogy, mesology and teleology, being the first two our proposal to the debate. An inventory of its utilization is made and a proposal of new forms of utilization of these terms, passing by crucial moments of philosophy's history. Moreover, the discipline of Strategy, taken in a philosophical way, is worked out. At end, a Strategy's philosophy is debated and a war’s philosophy (filosofia de guerra), distinct of a philosophy of war (filosofia da guerra), is suggested as a way to lead the discussion.

Keywords: archelogy, mesology, teleology, strategy, strategion, skopology







Introdução

Se o Evangelho do Ocidente fosse escrito hoje, poder-se-ia dizer as seguintes palavras, na boca do tecnológico Messias: da Grécia viemos, à Grécia voltaremos. E dar-lhe-íamos razão, afinal, poucas coisas de nosso mundo contemporâneo conseguiram se manter a salvo da influência grega. Nem mesmo a religião cristã, de raízes orientais, permaneceu indene, a começar pelo nome Evangelho, seguindo pelo fato deste ter sido escrito em grego, com fortes influência dos velhos helenos. O Ocidente retirou e retira da Grécia muito de seus caminhos.

Uma das ideias gregas que mais teve influência foi aquela mesma de ciência. Nascidos em uma terra pobre, em contato com diversas civilizações mais antigas e mais experimentadas, os gregos souberam lançar a fundação da ciência e a própria ideia de um logos regendo o mundo. Claro, se trata de uma ciência diferente da praticada hoje, mas a inspiração é autenticamente grega, assim como as bases.

A influência dos gregos se dá, por exemplo, no vocabulário. Quantos termos não foram hauridos da precisa língua grega, com seus sufixos, prefixos e raízes? Quantos nomes de ciências não derivam do grego? Quantos termos técnicos são oriundos da bela língua de Homero, a começar pelo próprio nome técnica? Temos uma dívida com os gregos, eis o fato.

É sobre alguns desses termos e algumas ideias gregas que versa este texto. Três termos ocuparam os filósofos por séculos e seguem com força: archē, logos e telos, respectivamente, princípio, razão e fim. Aparentemente termos simples, a dois deles parecem corresponder respectivas ciências. Ao conceito de archē, a arqueologia, que estuda a formação das sociedades a partir de traços civilizacionais materiais. À ideia de telos, a filosofia da história, que se debruça sobre a racionalidade oculta que governaria os fatos aparentemente sem ligação. Por fim, a noção de logos, ao qual se ligam todas as ciências. Princípio, meio e fim, poderíamos dizer, sem nos equivocar.

A própria marcha da ciência parece corresponder a uma mudança de paradigmas, da ênfase que se dava à archē e ao telos para uma mudança, por seu turno voltada para o logos. Como observa Peter Gay (1966): “Pensar qualitativo é, no geral pensar teleológico, e a história do progresso científico é a história da liberação da teleologia” (p. 246). Mas, se a noção de logos já tinha força entre os gregos, com múltiplos significados, e se o termo é nodal para distintas disciplinas, parece não haver uma ciência ou filosofia específica dos meios, uma mesologia filosófica, visto que há uma mesologia na biologia.

O objetivo deste artigo é debater qual poderia ser essa mesologia, qual campo do saber se adequa ao conhecimento dos meandros, em relação uma filosofia dos fins e uma filosofia dos princípios. Embora tenhamos citado a arqueologia como disciplina que estuda os começos, faltaria um campo do saber mais apropriado para este estudo. Como o nome arqueologia já guarda uma carga semântica própria, preferimos o termo archelogia, a fim de nos aproximarmos com mais precisão de nossos objetivos.



A archelogia

A noção de archē é antiga. Já em Hesíodo e em Homero ela aparece, se mantendo até mesmo no grego moderno. O sentido original de archē não é princípio, mas “caminhar primeiro, fazer o primeiro, tomar a iniciativa de começar” (CHANTRAINE, 1968, p. 119); mas, desde Homero, o termo archō, primeira pessoa singular do indicativo ativo do verbo archein, relacionado com archē, também significa “comandar”, e é geralmente empregado com o genitivo, o que pode indicar uma ideia de propriedade que algo ou alguém possui, já que essa é uma das funções precípuas do genitivo. Essa duplicidade entre comandar e ser primeiro se mantém em vários termos, como, por exemplo, archēgos, “que está na origem”, mas também “chefe”. Archē significa, ao mesmo tempo, “começo”, “princípio”, “poder”, “autoridade”, “magistratura”. Chantraine observa a tendência a distinguir entre archomai como “começar” e archō como “comandar” (CHANTRAINE, 1968, pp. 119-121); ambos estão na primeira pessoa singular, mas o primeiro no médio-passivo e o segundo na voz ativa, conforme dito. A voz média se caracteriza por ter um aspecto de ação que o sujeito realiza sobre si mesmo ou em seu interesse; em alguns tempos, como no presente, ela não se distingue do passivo. Com essa distinção, talvez a precisa língua grega talvez quisesse nos dizer que, para começar, sempre há algo de passividade, talvez de influência das circunstâncias, conquanto que, para comandar, o essencial é que o sujeito seja ativo.

Alexandre Magno fundou diversas cidades no correr da construção de seu império, inclusive várias Alexandrias. A mais famosa ficava no Egito. Morto Alexandre, seu império foi dividido entre os diadochos, ou seja, “herdeiros”. A Ptolomeu coube o Egito. Este fez de Alexandria um centro internacional de pesquisas, atraindo pesquisadores de toda a bacia do Mediterrâneo. Em Alexandria, a filosofia grega se encontrou com a religião oriental. Assim, um conjunto de sábios traduziu os livros sagrados dos Hebreus naquilo que ficou conhecido como Septuaginta. As primeiras palavras da Septuaginta são as seguintes: “En archē epoiēsen ho theos ton ouranon kai tēn gēn” (BÍBLIA, AT, GENESIS, 1, 1), ou seja, “no princípio fez deus o céu e a terra”

Já o Novo Testamento foi escrito majoritariamente em grego. As primeiras palavras do Evangelho de João são: “em archē ēn ho logos, kai ho logos ēn pros ton theon, kai theos ēn ho logos. Houtos ēn en archē pros ton theon” (BÍBLIA, NT, JOÃO, 1). Em tradução livre: “no princípio era o logos, e o logos era em relação a Deus e Deus era o logos. Este no princípio era em relação a deus”.

Dá-se bem uma noção, com as duas passagens bíblicas, daquilo que significa archē. O princípio surge com Deus. Deus é o princípio que tudo cria, do qual tudo provém e para o qual tudo tende. Em Deus encontra-se a chave para a explicação do kosmos.

Outro uso religioso aparece na Teogonia. Ali também, na primeira estrofe aparece o termo archōmetha, ou seja, archein na voz médio-passiva na primeira pessoa do plural; mas Hesíodo está se referindo às musas e ao canto que ele está prestes a principiar. Quando ele vai se referir ao começo do mundo ele utiliza o termo prōtista, isto é, ‘o primeiro”, que no caso é o Chaos, o “Abismo”, do qual tudo se gerou.

O primeiro uso filosófico do termo parece ter se dado com Anaximandro, mas há polêmica quanto a isso (KIRK, SCHOFELD, RAVEN, 2005). Se admitirmos que Anaximandro utilizou o termo, ele indicava como archē o apeiron, o “infinito indeterminado”, do qual infinitos mundos vieram e para o qual retornarão. Kahn (1960) defende que Anaximandro se referia às infinitas regiões do globo quando diz infinitos mundos. Já Prates e Silva (1992) defende que não há tempo cíclico em Anaximandro. Para nós mais vale apontar as consequências da utilização de archē como forma de indicar o princípio, o princeps do kosmos. O grego é uma língua muito rica e possui vários vocábulos que podem expressar a ideia de começar algo, tais quais epistrophos, “que é a causa de”; ou puthmēn, “fundamento de algo”. Mas Anaximandro escolheu precisamente archē para indicar o princípio. Sua sentença é

...heteran tina physin ápeiron, ex ēs ápantas gínesthais toùs ouranoùs kaì toùs en autois kósmoi. èx ón dè ē génesis esti tois ousi, kai tēn phthoran eis tauta ginesthai katà tò khreōn. didónai gàr autà díkēn kaì tísin allēlois tēs adikías katà tēn tou khrónou táxin (SIMPLÍCIO apud KIRK et ali, 2005, p. 117)

A tradução: “uma outra natureza apeiron, de onde tudo devém, os céus e aquilo que está nos mundos. De onde é a origem dos seres, a destruição para a mesma devém, segundo a necessidade. Dão, pois, uma à outra justiça e castigo pela injustiça segundo a ordem do tempo”. A archē é a origem de tudo; mas o duplo sentido que a palavra contém, significando também começar, indica que é uma origem que ressoa no presente da coisa, é um princípio comandante, um princípio que reina, que governa o kosmos, a partir do qual podemos conhecer tudo e agir sobre o mundo.

Por exemplo, Aristóteles na Metafísica define a que a sabedoria se define pelo conhecimento das causas (aitiai) primeiras e dos primeiros princípios (ARISTÓTELES, 981b). A discussão sobre os primeiros princípios (archē) ou causas (aitiai) ou das primeiras causas (archai aitiai) ocupa boa parte de alguns livros da Metafísica, confundindo-se com a própria noção desta disciplina. Mas Aristóteles parece não ter dado um nome específico a essa pesquisa pelos fins, assim como também não o fez a tradição. Claro, note-se que, no grego, há o verbo aitiologeō e o substantitivo aitiologia, ou seja, o estudo das causas; Epicuro o utiliza, por exemplo, (EPICURO, 97-5-10, p. 87). Mas, embora confluam, estudara a archē e estudar as aitiai não correponde inteiramente.

A busca por esse princípio orientou praticamente toda a história da filosofia. Várias noções ocuparam o papel de archē: a idea de Platão, o primeiro motor imóvel, Deus, o cogito, a natureza, o sujeito transcendental, o Absoluto, etc. A parte da filosofia destinada a estudá-lo é a Metafísica, mas parece não haver um setor específico desta debruçada em debater estes princípios em um nível mais abstrato. Essa seria, em nossa proposta, a tarefa da archelogia, disciplina cujo estofo é esclarecer os distintos princípios, bem como sua aplicação, distinta da metafísica pura e simples, bem como da ontologia, na medida em que a archelogia é uma parte destas. Assim como a teleologia compõe a metafísica, também a archeologia a compõe. Ou seja, estamos distinguindo a fim de tornar mais fáceis as investigações.

A busca pelos princípios orientou a ciência até muito recentemente, assim como a busca do telos. Afinal, quem diz fundo (Grund), diz fim, ou seja, quem indica os primeiros princípios indica como o universo há de se desenvolver, para onde ele tende, seu escopo secreto. Essa é a lição de Anaximandro. Não nos esqueçamos que era crença comum entre os antigos gregos a existência de um Grande Ano, de um período de tempo cíclico no qual o universo se é consumido e se desfaz somente para começar novamente (KAHN, 1979). Prates e Silva (1992) parece não levar isto em conta quando aponta que não há um retorno do kosmos às suas origens em Anaximandro. Mas, como mostra Kahn (1979), essa era uma crença difundida por toda a filosofia antiga.

Vejamos a teleologia mais de perto, para depois avançarmos à mesologia.

A teleologia

O termo telos é corrente no grego para indicar a ideia de realização, de finalização (CHANTRAINE, 1968, pp. 1101-103). Aristóteles o utiliza com essa intenção em várias passagens. Por exemplo, na Ética a Nicômaco ele começa o texto afirmando que toda technē e todo método tende a um bem, mas que diferem pelo fim, dado que Aristóteles considera que prática e teoria guardam objetivos diferentes. Se a adoção de princípios indica já a adoção de um telos, quer dizer, de um fim, o mesmo pode ser dito de qualquer teleologia. Só há uma possível caso se parta de fins específicos.

Mas há muitos telos diferentes. No fundo, como bem observa Aristóteles, toda a ação guarda consigo a ideia de um fim, ou seja, daquilo que se visa realizar com o acomplissement da ação. Assim, haveria uma teleologia para cada ação particular e seu estudo implica o conhecimento da archē das distintas ações.

Mas, não é nesse sentido amplo que a teleologia ficou marcada. Foi no campo da filosofia da História que seu uso foi mais propalado e a ideia se expandiu. A própria ideia de filosofia da História está indissociavelmente ligada às noções de finalidade, como bem observa Pecoraro (2009). O que se quer dizer com isto? Ora, sob a grossa capa dos acontecimentos, uma razão oculta os liga, uma Providência os acondiciona, um liame de prata faz com que a xícara de café que eu bebo pela manhã e as decisões do presidente da China se interconectem, como se uma rede tão invisível quanto espessa interconectasse as ações as mais comezinhas e o destino do globo. Por trás das efemeridades do cotidiano, um direcionamento prévio que liga o touro com a alga, para parafrasear García Lorca (1967).

Houve muitas diferentes filosofias da história. Kant pensava em um plano oculto da natureza, por exemplo, que estaria por trás de todo o desenvolvimento da espécie humana, ou seja, um desígnio obscuro que guiaria os atos cotidianos, bem como aqueles de grande significado, rumo a uma finalidade também secreta. Trata-se de uma reedição naturalista das ideias de Providência, de onde a ideia surge, que organizaria o emaranhado das ações segundo a intencionalidade divina (PLEKHANOV, 1974).

Se, conforme defendemos, toda archelogia já traz em si a noção de uma teleologia, seu inventor teria sido o próprio Anaximandro e esta seria tão pristina quanto a própria filosofia (LUIZ, 2018), na verdade mais, já que em outras religiões e até mesmo em Hesíodo encontramos uma filosofia da história. Mas a ideia de pensar a própria história como encaminhada para uma finalidade (eschatos, telos) é de origem religiosa. O Juízo Final, o fim do mundo, o ciclo que deve se cumprir, etc., ideias orientais que adentraram a filosofia e renderam frutos. Então, afora os próprios Evangelhos, é em Agostinho que devemos situar um ganho de proporções da filosofia da história, reforçada por milênios por outros autores cristãos, até encontrar sua forma definitiva na pena de Bossuet, Hegel, etc. (PLEKHANOV, 1974) e até mesmo Marx (GURVITCH, s/d).

Mas também podemos encontrar versões laica e ligar essa finalidade à própria noção grega de necessidade (ananke). Se um evento se processa por necessidade, uma das divindades compiladas por Hesíodo, é porque há tanto uma archē quanto um telos operando, na surdina que seja. Trata-se de uma ideia muito difundida pela filosofia e pelo próprio senso comum. A oportunidade gera o ladrão, provérbio popular que indica bem como noções filosóficas podem ganhar o gosto do grande público. O materialismo dialético de Marx, bem como todo materialismo, guarda relações com essa noção.

Vê-se que archelogia e teleologia guardam imbricações profundas. Mas a elas falta os meios de se realizar, falta um logos, um mesos. Tratemos, pois, da mesologia.

A Mesologia

A introdução do termo logos em filosofia é creditada a Heráclito. Eles ocorrem inúmeras vezes nos fragmentos extantes do mesmo. Termo de múltiplas traduções que, segundo Burnet (1908), não deve ser interpretado em um sentido realista. Segundo ele, quando Heráclito trata do logos, ele está se referindo a seu próprio discurso.

Compartilhamos com Kahn (1979) a ideia de que Heráclito não foi cognominado obscuro à toa. Seu discurso é múltiplo, ou seja, pode ser interpretado em múltiplos registros. Segundo Kahn, o logos é, ao mesmo tempo, o discurso de Heráclito, a natureza da linguagem, a natureza da psyche e o princípio universal de todas as coisas (KAHN, 1979).

Mas o que é logos afinal de contas? Logos é um termo ligado aos verbos legō e logizdomai, ou seja, dizer, coletar e raciocinar. Ele significa, concomitantemente, “razão”, “discurso”, “história”, “racionalidade”, etc. O Aoristo de legō é eipon, de onde aproximações que se pode fazer entre o epos, o discurso da épica, dos poetas e o passado de legein. O Epos seria um discurso pronunciado há muito tempo; o logos seria o discurso coevo, pronunciado hodiernamente que abordaria a racionalidade do mundo (BERGE, 1969).

Heráclito escreve contra os poetas. Ele os admoesta em alguns fragmentos. Ao introduzir o logos ele está contrapondo o discurso antigo, o epos dos poetas, com o mundo tal qual ele se dá contemporaneamente. Ele quer descobrir a racionalidade do mundo, o processar-se das coisas, seu devir, seu meio. Heráclito escreve contra a pesquisa de archē, embora ele aceita a teleologia do Grande Ano.

A ciência moderna fez progressos consideráveis quando abandonou a pesquisa da archē ou do telos, tal qual propunha Aristóteles, em benefício de uma pesquisa da organização das coisas tais quais elas se dão. Esse é um dos aspectos da revolução científica dos séculos XVII-XVIII: pesquisar não um princípio ou finalidade ocultos na natureza, que determinaria a história, mas, sim, o modo como as coisas se organizam. Enquanto, destarte, a filosofia persistia na pesquisa dessa archē e desse telos, a ciência se imiscuía com a técnica — já que a história da ciência e das técnicas não é a mesma — dando origem ao formidável progresso dos meios que observamos nos últimos 250 anos.

Mas, enquanto a filosofia quedou presa em uma archelogia e em uma teleologia, e talvez até por isso, nunca se desenvolveu uma mesologia, uma disciplina dos meios, uma disciplina do instrumental, do dativo. Vejamos como poderia ser uma disciplina assim formulada.

Estratégia, ciência dos meios?

Há uma disciplina que pode ser disciplina dos meios, a ciência da Estratégia. Em fato, enquanto a política fixa os fins, a Estratégia conjuga as formas de concretizá-lo. A Estratégia não costuma ser muito estudada pelos filósofos, visto que, imiscuída que está com o que há de mais mundano, o poder político, a guerra, o sangue, as chagas; os filósofos preferem se debater com as questões mais elevadas, que conduziram Tales ao fundo do poço e Heráclito à montanha de estrume.

O termo estratégia deriva do grego antigo strategos, “general”. A estratégia seria, originalmente, as coisas relativas ao general. Mais contemporaneamente, especialmente com a repercussão das ideias dos militares Liddel Hart e Beaufre, alargou-se o alcance do termo. Hodiernamente, se fala de estratégia em vários níveis, sempre com o sentido da racionalidade que se há de adotar a fim de conseguir alcançar diversos fins. A estratégia é a ciência que viabiliza as coisas, que consegue fazer com que o presente se transforme no futuro, que consigamos não depender das circunstâncias, mas fazer do devir nossa morada.

Estratégia e poder político são interligadas. Isto porque poder nada mais é senão um meio: indica a capacidade de se realizar uma determinada ação. Por exemplo, poder político indica a competência em se realizaras coisas relativas à polis, quer dizer, à gestão da vida. Por isso existem distintos níveis de estratégia, como diplomática, científica, , psicossocial, militar, política, econômica, conforme se trate de diferentes tipos de poder. Até mesmo em um sentido amplo, conforme apontado, há estratégias de estudo, por exemplo, ou uma estratégia de preparar o almoço.

Propomos o nome de strategíon, diminutivo de strategia em grego, para essas estratégias de miudezas e reservaremos o nome de estratégia para aquilo que guarda um interesse público: interessa a muitos, não a poucos, a estratégia de um Presidente da República. Já o strategion da onça caçando ou do estudante preocupado com o vestibular interessa a poucos.

Também distinguiremos entre uma teleologia e uma escopologia. Conforme dito, o termo teleologia está carregado de significados metafísicos. Mas o grego guarda outros termos para indicar finalidade, como skopos. Assim, para finalidades não metafísicas preferiremos este último termo.

A estratégia será então a ciência dos meios, que liga uma archelogia a uma escopologia através de um logos específicos, de um procedimento, que indique como atuar a fim de concretizar nosso escopo.

Conclusões

Há também uma filosofia dos meios. Como observa Paul Veyne (1982), tanto Foucault quanto Deleuze se propõem a tomar as coisas pelo meio. Deleuze fala de ser como a erva e de, no lugar de ser arborescente, ser rizomático, i.e., não partir de uma archē, da busca indefinida por origens perdidas no tempo, como diz Foucault, mas de observar as coisas tal qual elas se dão. Trata-se de uma filosofia geográfica — e a geografia serve para fazer a guerra.

Mas os filósofos acima arrolados parecem não ter se dado conta da importância da estratégia e de suas ressonâncias filosóficas quando escreviam. Foucault reconheceu a estratégia como meio de analisar o poder político e chegou mesmo a propor um conceito filosófico de estratégia; mas tudo de maneira fragmentária, sem se deter a fundo nas implicações filosóficas de uma ciência dos meios (LUIZ, 2021). É este debate que pretendemos lançar.

No presente artigo propusemos algum vocabulário novo, que, esperamos, gerem alguma discussão no meio filosófico. Archelogia, mesologia, escopologia, strategíon são termos que tratam com maior precisão uma filosofia de guerra. Com isto fazemos uma última contribuição: não filosofia da guerra, cujo o principal autor é Clausewitz, mas uma filosofia de guerra, que se debruça sobre o potencial da estratégia para os estudos filosóficos. As fundações foram lançadas. Vejamos como se constrói o edifício.

Bibliografia

BEAUFRE, A. Introduction à la stratégie. Paris: Armand Colin, 1965, 3ª ed.

BERGE, D. O logos heraclítico. Rio de Janeiro: Instituto Nacional do Livro, 1969

BROOKE, A. E; MCLEAN, N. The Old Testamente in Greek. Cambridge: Cambridge University Press, 2009

BURNET, J. Early Greek philosophy. London: Adam and Charles Black, 1908, 2ª edição

CHANTRAINE, P. Dictionnaire étymologique de la langue grecque. Histoire des mots. Paris: Klincksieck,1968

CREVELD, M. van. The Art of War—War and Military Thought. London: Cassel, 2000

DELEUZE, G., PARNET, C. Dialogues, Paris: Flammarion, 1996

DIELS, H. Die Fragmente der Vorsokratiker. Berlin: Weidmannsche Verlagsbuchhandlung, 1960

ESCOLA DE COMANDO E ESTADO-MAIOR DO EXÉRCITO (ECEME). Introdução à estratégia. S.l.: CSP/ECEME, 2011

ESCOLA SUPERIOR DE GUERRA (ESG). Fundamentos do Poder Nacional. Rio de Janeiro: ESG, 2019

EPICURO. Opere. Torino: Einaudi, 1972

GARCÍA LORCA, F. Antología Poética. Buenos Aires: Losada, 1967, 4ª ed.

GAY, P. The Enlightenment An Interpretation, Vol. 1 The Rise of Modern Paganism. USA: Alfred A. Knopf, 1966

GURVITCH, G. Proudhon e Marx II: uma confrontação. Lisboa: Presença, s/d.

HART, B. H. L. Strategy, NY: Meridian Book, 1991

KAHN, C. Anaximander and the origins of Greek cosmology. New York: Columbia University Press, 1960

________. The art and thought of Heraclitus. Cambridge: Cambridge University Press, 1979

KIRK, G. S.; RAVEN, J. E.; SCHOFIELD, M. Os filósofos pré-socráticos. 5. ed. Lisboa: Calouste Gulbenkian, 2005

LUIZ, F. Anaximandro, a teleologia e a história. Diaphonía, v. 4, n. 2, 2018.

_______. Clausewitz, Liddel Hart, Beaufre, Foucault: O conceito filosófico de estratégia. Ítaca, vol 34, 2019

_______. Poder e história: o conceito de estratégia em Michel Foucault. Dissertação de Mestrado. Marília, 2021. Disponível em: <http://hdl.handle.net/11449/204355>, acessado em 28/04/2021

______. Uma reflexão introdutória sobre o polemos no fr. 53 DK de Heráclito. HYPNOS, São Paulo, v. 45, 2º sem., 2020, p. 281-291

LUTTWAK, E. Strategy: the logic of war and peace. Cambridge/London: Belknap Press of Harvard University Press, 2001

MARTINS, R. F. R. C. Acerca do conceito de estrategia. Nação e defesa, Ano IX, no 29, Janeiro-Março de 1984 (1995), Lisboa: Instituto da Defesa Nacional, 1995, pp. 97-125

MEIRA MATTOS, C. de. Estratégias militares dominantes. RJ: BIBLIEX, 1986

PARET, P. et ali. Makers of modern strategy: from Machiavelli to the Nuclear age. Princeton: Princeton University Press, 1986

PECORARO, R. Filosofia da história. Rio de Janeiro: Zahar, 2009

PLEKHANOV, G. A concepção materialista de história. 4. ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1974.

PRATES E SILVA, R. C. B. A justiça cósmica (um estudo sobre Anaximandro de Mileto). Tese de Livre-docência, Araraquara: FCL-UNESP, 1992

ROBINSON, M. A. PIERPONT, W.G. The New Testament in original Greek. Southborough: Chilton Books, 2005

SAINT-PIERRE, H. Política armada — fundamentos da guerra revolucionária. SP: EDUNESP, 1999

VEYNE, P. Como se escreve a história; Foucault revoluciona a história. Brasília EDUnB, 1982