domingo, 27 de junho de 2021

Philogelos 25-27

 25. Sábio navegava em meio a uma violenta tempestade, quando seu escravo se pôs a chorar. "Não chore", disse, " tudo para você em meu testamento eu deixo quando você for livre".


26.  Sábio procurando um bom lugar para sua sepultura, foi informado de um lugar assim, e disse: 'Não, aí é ruim para a saúde".


27. Um sábio concordou com o seu médico de lhe pagar quando estivesse curado. Como ele bebia vinho enquanto tinha febre, sua mulher o interrompeu [de beber]. Então, ele disse: "você quer que eu me cure, para ter que pagar ao médico?"

sexta-feira, 25 de junho de 2021

As duas vias do contemporâneo

A História (com H maiúsculo) passa e por vezes somente deixa rastros, legando a posteridade a dura tarefa de interpretação. Assim, levas de tintas foram gastas debatendo a origem de coisas tão cotidianas como leis, sociedade e estado. Como faltam documentos, sobra especulação, tema preferido dos filósofos modernos e contemporâneos.

Para alguns, o Estado surge da propriedade; para outros, da guerra de tribos ou povos; para outros ainda, da religião. Ou, senão, de um contrato que visava acabar com a insegurança dos tempos pristinos da humanidade. O mais certo é que o Estado existe e temos que lidar com ele.

Se acompanharmos o nascimento dos modernos Estados, seja na Europa, seja no Brasil, a resposta á questão combina duas vias. Em um contexto de conflito generalizado e de invasão de tribos bárbaras, com o concomitante estabelecimento da propriedade privada e a introdução de uma religião nova, surge o Estado, esta besta-fera.

Se surge o Estado, surgem leis. Não que as pessoas vivessem sem normas; havia costumes, leis da religião (themis), hábitos e a própria questão da convivência em comunidade, que parece impor, de per si, certos padrões mínimos de convívio. Mas, com o Estado, há uma separação entre quem faz ou dita as leis e as pessoas que devem obedecê-las; ou seja, os rudimentos de uma burocracia. Na Europa, essa burocracia já existia; nas terras colonizadas do Brasil, era coisa nova, visto que o poder do chefe, como mostra Clastres, é fluido e dependente do consentimento constante dos governados, o que dá azo para que ele fale em sociedade sem estado. Já no altiplano e no meio do continente, já existia burocracia, escribas, etc.

De todo modo, o surgimento do Estado como surgiu marca que exista uma dominação em curso. Se bem que sempre haja estado em uma comunidade, nas formas que ele vem assumindo historicamente há sempre um grupo social controlando-o e outro, maior, submetido. O por que a maioria se submete á minoria é sempre um enigma. Basta que todos se movimentem para que um caia. Á moda de La Boétie, a servidão voluntária de tantos é a esfinge que nos atormenta.

Se havia conflito, era porque, na Antiguidade, a maior parte dos cidadãos era formado de escravos, que servem como instrumento; do qual os bois são similares para os pobres, como diz Aristóteles. A situação de escravidão foi eventualmente terminada. Em seu lugar, adveio o instituto da servidão e, por fim, o trabalho livre, a competição da força de trabalho no mercado de trabalho em troca de um salário. As coisas não são tão esquemáticas quanto parecem á primeira vista. Formas mais antigas convivem com formas hodiernas e mesmo são seu sustento, como no caso brasileiro, onde uma empresa capitalista, o engenho, convivia com a escravidão de negros. 

Mas a história pode ser lida, como faz a vertente marxista e, mais recentemente, Negri e Hardt, como a luta dos oprimidos para sua libertação. Da objetificação completa na antiguidade, passando para um regime de liberdade maior na Idade Média e outro ainda maior no período do trabalho livre. Não nos restaria, portanto, esperar, visto as peias que nos constrangem no momento, um regime de liberdade completa, já projetado nas fileiras do socialismo, onde os constrangimentos que o trabalho capitalista nos impõem, seriam superados e dariam lume a uma sociedade onde os ideias que vem guiando a esquerda - Liberdade, igualdade, fraternidade - seriam, enfim, realizados?

Mas, há Estado, e ele é, como vimos, controlado pela minoria privilegiada sob os aplausos de uma maioria passiva. O que está entre o sonho de uma sociedade livre e o presente de escravidão salariada é muito pouco, mas as amarras são fortes. Desorganização dos excluídos, fatores discursivos ideológicos, forte poder de dominação dos privilegiados, etc.

Assim, ao invés de caminharmos para um futuro de uma sociedade livre, o que se desenha é uma sociedade de concomitantemente maior liberdade e maior escravidão, uma sociedade uberizada, onde a palavra de ordem é o empreendedorismo. Se cada cidadão for uma empresa, ele é mais livre, na medida em que pode escolher não vender seu serviço para este ou aquele consumidor (o patrão), controla melhor seus horários, et.; mas ele é mil vezes mais escravo, na medida em que todos os direitos trabalhistas lhe são tolhidos; nada de férias, periculosidade, constância; é a vida em um fluxo, sem nenhuma firmeza. É a lei da selva da concorrência implacável entre os excluídos, ao passo que, entre os donos do dinheiro, reina oligopólios e negociatas. Ao mesmo tempo, com esse golpe de morte, desfaz-se a própria ideia de classe trabalhadora e a luta de classes é ganha por w.o., já que os excluídos, os periféricos sequer se reconhecem como classe trabalhadora.

O primeiro passo da esquerda para evitar um destino tão catastrófico, verdadeira estratégia histórica das classes dominantes, é traçar uma estratégia que implique em acolhimento. Ou seja, criar comunidades de interesses na sociedade, que se contraponha á atomização da classe em empreendedores concorrentes. Torcidas organizadas, associações de bairro, grêmios estudantis, movimentos sociais e, claro, sindicatos, fortalecendo-os. Enquanto não se opor á concorrência do mercado capitalista a solidariedade dos dominados, continuaremos perdendo e, sem o futuro de uma sociedade livre de iguais, haverá o devir de uma sociedade de empreendedores.

quarta-feira, 23 de junho de 2021

Philogelos 22-24

22. Sábio encontrou um amigo e lhe disse: "soube que você morreu". O amigo retorquiu: "mas me vês vivo".  E o sábio [respondeu]: "mas quem me disse é mais digno de confiança que você".


23 Sábio foi o primeiro a inaugurar um o banheiro; entrando e nada encontrando falou para seu escravo: 'de onde vejo, não se está em funcionamento o banheiro".


24. Sábio brigava com seu pai; disse para ele: "maldito escravo, não vê o quanto me causa dano? Se não tivesse nascido, teria herdado [o dinheiro] de meu avô".

domingo, 20 de junho de 2021

Philogelos 19-21

 19. Sábio vendo muitos pardais sobre uma árvore parados, balançou a árvore e estendeu seu avental para pegar os pardais


20. Dois sábio após um jantar um ao outro se reverenciaram por deferência e, assim, não puderam dormir


21. Sábio desejando dormir, não possuindo travesseiro, ordenou ao escravo que lhe desse um pote de cerâmica. Este respondeu que o pote era duro, [o sábio respondeu] para ele enchê-lo de penas.

sábado, 19 de junho de 2021

Philogelos 16-18

 16. Sábio procurou um livro por muitos dias e não o encontrou. Enquanto comia salada, olhou para um canto e viu jazendo o livro. Mais tarde um amigo reclamava como a stole [peça de roupa] de sua túnica havia desaparecido. "Não sofra", disse", mas compre salada e coma-a perto do canto e você encontrará [sua stole]".


17. A Sábio viajando, um amigo escreveu [uma carta] pedindo que ele lhe comprasse um livro. O sábio, negligente, ao retornar, foi ao encontro do amigo. "A carta", disse [o sábio], "que sobre o livro você me enviou não foi entregue".


18. Alguém foi ao encontro do sábio e disse: "o escravo que você me vendeu morreu". [O sábio respondeu] "Mas pelos deuses", disse, "quando ele estava comigo, nunca fez isso"

quinta-feira, 10 de junho de 2021

Philogelos 13-15

 Dois sábios parricidas se irritavam um com o outro porque seus pais ainda viviam. Um disse: "desejais que cada um de nós sufoque os próprios [pais]?". "Que isso não devenha", respondeu o outro, "para que não sejamos chamados de parricidas. Mas, se quiseres, você degola o meu, e eu degolo o seu".


Sábio comprou uma casa; em seguida, foi até a janela e indagava aos passantes se ela [a casa] lhe ornava bem o rosto.


Sábio em sonho viu-se pisando de pés descalços em uma agulha e, assim, enfaixou os pés. Um companheiro lhe perguntou o motivo e, assim que soube, disse: "com justiça", disse, "nos chamam de tolos. Por que, pois, vais deitar com os pés descalços?".

segunda-feira, 7 de junho de 2021

Philogelos 10-12

 Sábio viajava com um cavalo, foi perguntado se não era perigoso. Respondeu: não, pela salvação de meu pai. Até hoje só ficou no estábulo


Sábio desejava ver se lhe ficava bem no semblante o sono, olhou-se de olhos fechados em um espelho


Sábio, que se preparava para viajar de seu país, foi indagado por um amigo: Gostaria de saber se você não pode comprar dois escravos, cada um com quinze anos. [O sábio] respondeu: caso eu não encontre esses, te compro um de trinta anos.

quinta-feira, 3 de junho de 2021

Philogelos 7-9

 7. Sábio que tinha tido a úvula [campainha da garganta] cortada [operada]  foi avisado pelo médico de que não poderia falar. Instruiu ao escravo a beijar [cumprimentar] em seu lugar aqueles que falassem com ele. Depois de cada vez, se explicava: "não fique bravo com ele, se o escravo te acolhe com afeição em meu lugar: [é que] o médico me ordenou a não falar".


8. [Um] sábio, desejando agarrar um rato que roía seus livros, ao morder [um pedaço de] carne, sentou na escuridão.


9. Sábio desejando seu burro ensinar a não comer, não lhe forneceu comida. Morrendo [o burro] de fome, disse: "mas que punição! Agora, pois, que aprendeu a não comer, então morre!".

quarta-feira, 2 de junho de 2021

Philogelos 4-6

 4. Um sábio, que viajava com seu cavalo tentando vendê-lo, foi perguntado se ele já fizera a primeira queda [de dentes] [πρωτοβóλος]. Respondeu que já fizera duas. Como sabes? [perguntou o outro homem]. [É] que uma vez me derrubou e outra vez o meu pai.


5. Um sábio foi saudado na rua [por alguém que] disse: "Senhor sábio, te vi em um sonho e te saudei". Ele respondeu: "Pelos deuses, disse, como estava trabalhando não prestei atenção [não te saudei de volta]".


6.Sábio [seu] médico vendo se escondeu atrás de um muro. Um lhe perguntou a causa de se esconder; ele respondeu "Já faz tempo que não adoeço e me envergonho de assim ver o médico".

terça-feira, 1 de junho de 2021

Philogelos 1-3 [tradução]

 1. Um sábio ordenou a um ferreiro que fizesse uma lâmpada. Este perguntou, em qual tamanho [deveria fazer a lâmpada], [o sábio respondeu]: "como se fosse para oito pessoas".


2. Sábio mergulhar querendo, estava bêbado; jurou não entrar na água até que aprendesse a mergulhar.


3. Um sábio foi ao médico e disse: "Doutor, quando me levanto do sono, por meia hora tudo fica escuro e tenho que ficar sentado. O médico [respondeu]: "Acorde meia hora depois".