Se duas pessoas discordam, há um conflito instalado. Pensar o conflito é tarefa da filosofia. Mas nem todos os filósofos salientam o conflito. Para alguns, há concordância impera, visto que, só há base para o conflito se houver acordo prévio em conflitar: pode-se dizer, mesmo na guerra há certos acordos. A filosofia nasce sob o signo do conflito. O primeiro filósofo que, segundo a tradição, escreveu, Anaximandro, fala do conflito cósmico, da injustiça que as coisas se pagam; mas, se há injustiça, há também, para ele, reparação na ordem do tempo, necessariamente. Esta noção é perpetuada por Heráclito que mostra como mesmo no pólemos, a guerra, há uma harmonie, uma harmonia. Estou dizendo estas coisas porque todas as principais teorias políticas da modernidade estão pautadas na ideia de conflito; o liberalismo e a competição, o nazifascismo e a luta contra os comunistas, o socialismo e a luta de classes. Reconhecer que há conflito é parte fundamental da própria colocação na disputa; posto que, caso não haja sobre o que disputar, não há necessidade sequer de falar. Lembremos as relações que o logos, a racionalidade do mundo, mantém com o verbo légein, dizer, falar. Se há conflito, é porque falamos, expomos nossas divergências. A própria noção de democracia pressupõe o conflito constante, mesmos em suas origens, posto que os gregos eram um povo que disputavam bastante. Quem se furta ao conflito, está condenado a perder posições, posto não reconhecer a necessidade de lutar para vencer. Nesse sentido, o Islã está mais bem paramentado que o cristianismo ou o taoísmo na luta pelo domínio do mundo, posto reconhecer a necessidade da luta para evangelizar. Os próprios protestantes neopentecostais estão na luta constante contra o diabo, que enxergam em toda parte. Se estar em sociedade significa conflito de interesses, penso ser necessário uma analítica que dê conta de mostrar os interesses em conflito em um gradil ontológico. Uma ontologia bélica, que situe o conflito no coração do ser, mas abrindo mão da harmonie heraclitiana, que se replica em Hegel e, por conseguinte, nos marxistas. Na minha modesta opinião, esta é uma tarefa que está para ser feita no campo da filosofia contemporânea.
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