Chutando a escada: a estratégia do desenvolvimento em perspectiva histórica
Ha-Joon Chang, SP: EDUNESP, 2004
O livro de Chang já se tornou um clássico contemporâneo. A tese central do livro é que os países ricos adotaram historicamente uma estratégia de desenvolvimento diferente daquela que vêm prescrevendo aos países subdesenvolvidos. Daí que estejam "chutando a escada" por onde subiram, impedindo que os países subdesenvolvidos possam se desenvolver. Assim, se trata de um livro escrito contra o neoliberalismo das instituições internacionais, como o FMI, o BCE, o BIRD e a OMC, que defendem o enxugamento do estado, a adoção de certas políticas, como o câmbio flutuante e o livre comércio, e de certas instituições. Chang, através de acurada pesquisa histórica, mostra como os países desenvolvidos , para se desenvolverem, foram extremamente protecionistas, adotando altas tarifas sobre os manufaturados importados, além de não terem adotado a democracia e as instituições de proteção ao trabalhador senão tardiamente. Chang não defende que os países da periferia do capitalismo abram mão da democracia, por exemplo; apenas aponta que o atual sistema internacional, em sua formação, não adotou estas instituições prematuramente, mas que somente em um período posterior, quando a armação do sistema já estava constituída, isto se mostrou. Se Chang tem a noção de que os países desenvolvidos bloqueiam o desenvolvimento dos demais, exigindo, por exemplo, para empréstimos internacionais a adoção de certas políticas, como vimos recentemente no caso grego, falta a Chang uma teoria do imperialismo, onde se mostre que, na verdade, os países ricos vivem do saque daqueles pobres; neste sentido, a leitura de Marini é complementar, ao menos no tocante ao caso latinoamericano. O tom do livro é austero, posto que Chang busca se mostrar como autor de um estudo científico, ou seja, suas conclusões surgiram no correr da pesquisa, não estavam prontas de antemão. Segundo o perfil da Editora UNESP no Facebook, publicadora do livro no Brasil, este texto é uma de suas publicações mais vendidas. Em fato, muitos liberais tem se dedicado a contrapor-se às teses do alfarrábio de Chang, afirmando, por exemplo, que os EUA não se desenvolveram devido a políticas protecionistas em relação à Inglaterra, centro industrial do sistema no século XIX, mas apesar destas políticas. Os liberais, como se sabe, apesar de se apresentarem como cientistas, são mais apóstolos que pesquisadores sérios, malgrado a experiência histórica os contradiga dia-a-dia. Por exemplo, desde a adoção do neoliberalismo, com Collor, a economia brasileira perdeu complexidade e se reprimarizou, com leves curvas fora da reta. Apesar disso, continuam os liberais com sua cantilena, que só beneficia os donos do capital e os imperialistas internacionais, afirmando que "vantagem comparativa" d Brasil são os produtos primários, de modo que devemos nos especializar nestes, e que tanto faz vender aviões de ponta ou soja in natura, uma besteira contraintuitiva. Esperemos que o livro de Chang sirva como uma trincheira, apesar das fraquezas apontadas, contra a maré liberal que tomou o Brasil. Mas Chang não é socialista, apenas um intervencionista moderado. Não adianta pedir que gatos ponham ovos, portanto. Se contribui com o debate, não é de suas posições que encontraremos a solução dos problemas brasileiros, apenas sua mitigação. A solução, meus caros, há de vir da boa e velha seara socialista, pensamento sempre atual enquanto existirem classes sociais e capitalismo.
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