Texto de 2004.
Apologia Ao Ateísmo E Desmistificação Da Religião
(O ceticismo puro)
Muitos dizem deus, deus, e nem ao
menos pensam em tentar saber o que exatamente é deus. Imaginam-no como uma
criatura metafísica responsável pela criação do mundo e do Universo e de todas
as formas vivas e de tudo que enfim existe. Ora, ora, nada mais falacioso que
tal colocação.
1. Primeiro, Há muito já nos disse
Parmênides de Eléia que tudo no Universo ou é ou não-é, em suma, que algo
existe ou algo não existe, não havendo caminho adverso. Se algo é, existe e é
material, palpável. Já se não-é, inexiste, assim sendo, é imaterial, não
passando de imaginação.
2. Segundo, Parmênides ainda nos legou que
não se deve perder tempo tentando explicar o que não-é, já que pesquisar ou
fazer conjecturas sobre o que não-é, sobre o que não existe, constitui-se
metafísico, e, portanto nunca poderá ser explicado. Vejamos a questão que nos
aflige de outro modo: deus é ou não-é? Respondo: eu, e ninguém que conheça,
nunca viu nem tocou deus e nem conhece alguém que o viu ou nele tocou.
(Ignoremos agora o Citado em 1) E mesmo que deus transcendesse a matéria,
constituindo seu corpo algo intocável e etéreo, ele teria imagem ou no mínimo
presença física (pois senão os homens nunca teriam começado a louvá-lo)! E,
mesmo esta presença física, continua sem ser vista por qualquer um que conheça,
então chegamos à conclusão que deus não-é e por tal não existe.
(2 ½. Pequena impressão de contradição. Cabe
aqui um esclarecimento. Conforme o já dito, as coisas ou são ou não-são. Acabo
de afirmar acima que deus não-é, portanto não existe. Afirmo também que se algo
não-é, é impossível que se faça afirmações a seu respeito. Mas, se deus não-é
como é que existem conjecturas a seu respeito? A isso respondo: os filósofos
tradicionalmente dividem as interpretações do que existe em dois grandes grupos
possíveis de interpretações, o mundo sensível e o mundo das idéias. O mundo
sensível é aquele que os cinco sentidos, tato, olfato, visão, audição e
gustação, podem captar. Já o mundo das idéias é aquele onde, através da
compreensão do mundo sensível pelos sentidos, o homem constrói conceitos e
assemelhados. Deus é, portanto, como será demonstrado adiante, uma construção
mental que certos indivíduos tem consigo, existindo apenas na mente dos homens,
ou seja, ele é e não-é ao mesmo tempo, pois ele não existe fisicamente,
existindo apenas no mundo das idéias, pois os homens o criaram.)
3. Além
do mais, caso se admita a idéia do corpo de deus ser fantasmagórico, por que
somente o deus católico-judaico-cristão existe? Se porventura este existe, não
existirão também outros e outros iguais, ou impares entre si, provindos das
mais diversas culturas, tribos, países e etnias. Mesmo que exista um deus mais
forte e outros mais fracos, nós teríamos não apenas um ser perfeito e infinito,
e sim diversos outros. Assim, por que os outros deuses nos permitiriam louvar a
um só, consoante prega as religiões monoteístas? Certamente estes interviriam,
ou não? Pode-se argumentar que todos os deuses são a mesma faceta de um mesmo
ser. Mas tal afirmação é irracional, pois o que um católico considera correto não é muitas vezes correto para
um budista ou mulçumano. Logo, é impossível que admitamos a idéia de um só
deus, a menos que este tenha Síndrome de Caim ou símile.
4. Se
deus é, então ele é feito de matéria ou se deus não-é, inexiste, e é imaterial.
Bem, como nunca o vi e nem conheço alguém que o tenha visto, assim como não
registro histórico fidedigno que o comprove, ele não-é, e por tal inexiste,
podendo ser no máximo um sentimento ou uma projeção mental. Não há como algo
existir sem ser material, palpável. Isso é correto e ortodoxo. “Muito bem”,
dizem então os religiosos, “Então me explique os sentimentos e sua natureza.
Nunca relei no amor ou na saudade ou na felicidade, mas sinto estes pulsarem em
minhas veias e exortar a mim e a todos que conheço”. Ora, ora, pelo que me
consta os sentimentos tem sua origem no cérebro (e que alguns chamam de
coração, não no sentindo relativo ao órgão que bombeia o sangue, mas sim no
sentido do lugar onde os sentimentos originam-se, é onde o homem “sente”). Sei
também que os impulsos nervosos do cérebro têm sua origem em substâncias
químicas, que instigam os neurônios a dar uma resposta ao meio externo. Por estas
conclui-se que o amor, bem como todos os outros sentimentos e similares, são
originados de impulsos nervosos e substâncias químicas, sendo, depois de sabido
o supracitado, um fenômeno em essência químico. Percebe-se então que não existe
o Amor como muitos dizem, e sim existe o amar, a ação do Amor é verdadeira, mas
o Amor, como nos é passado atualmente é a mais caluniosa das mentiras, pois o
amor deixou de ser amor e se tornou Amor, adquiriu vida própria, transformou-se
num mito, idealizou-se, é hoje mais uma idéia que um sentimento propriamente
dito. (N.E. *Ver O ceticismo puro
aplicado e As conseqüências do
ceticismo puro)
5. Já que
deus não-é, sendo, portanto, imaterial, só nos resta duas coisas que ele pode
ser: sentimento ou projeção mental, tendo ambas a capacidade de explicá-lo.
6. Não
pode então deus ser considerado um sentimento? Deus por si só, como já ficou
provado, inexiste. Mas então no que as pessoas acreditam. O que ocorre é que
deus inexiste, mas a fé que se tem nele existe, sendo deus então, segundo os
métodos socráticos, um sentimento. Do mesmo modo que o amor, o ato de sentir fé
é um impulso nervoso, estimulado por uma substância química, que chegará aos
neurônios, que por sua vez responderão a este impulso da forma que melhor lhes
apetecer. Sentir fé é antes de tudo acreditar piamente, ter confiança muito
grande a algo ou alguém. Se deus não se constitui material, mas acredita-se
nele, nada mais passa a fé que sentem em deus (e por conseqüência ele próprio)
do que um sentimento, ou seja, deus é fé e sentimento, e deus não criou os
homens nem universo algum, mas sim estes o criaram e agora invertem o papel.
7. Mas,
por que as pessoas gostam de sentir-se enganadas? O grande problema é que elas
não se sentem. Sua fé cristalizou-se de tal forma unilateral, que pensam elas
que deus existe, e que ele é um ser perfeito, físico, onisciente, onipresente e
onipotente. Para essas, deus não é um sentimento, mas sim um ser real. Na
verdade, pessoas com fé muito grande em deus constituíram para si próprias uma
projeção mental, tal qual uma ilusão ou holograma. E estas têm chances
diminutas de se libertar. Uma projeção mental nada mais é que algo, um ser, um
sentimento, etc..., Que nossa mente, por puro conforto ou comodismo, projeta e
nos ilude. Claro que a mente não faz isso por que quer, mas sim por que
permitimos, como já foi dito, por comodismo, por preguiça de pensar e
raciocinar ou por não conseguir aceitar algo, encontrar os fundamentos lógicos
na existência divina. A mente pode criar projeções mentais ainda por que a
pessoa quer acreditar naquilo ou está com aquilo na mente, muitas vezes em
decorrência do que lhe foi exposto enquanto criança ainda imberbe. Quem já viu
vultos ou ouviu seu nome sendo chamado sem ter ninguém chamando sabe o que digo
e que isto se constitui verdade.
8. Bem
vejamos, então todos os milagres, padres, pastores, e símiles, nada mais são
que farsantes e vigaristas? Talvez sim farsantes, mas farsantes “eufemizados”
(pois muitas vezes, e estas são maioria, eles também acreditam no que
pregam)..., ou seja, eles são farsantes de si próprios, pois na maioria
absoluta das vezes, como já citado, eles mesmos acreditam no que dizem;... mas
nem tanto vigaristas, embora se observe hoje novamente em certas religiões (que
passou a ser confundida com igreja) a venda de indulgências, onde se cobra
quantia insólita por uma Bíblia, tudo em nome e pelo Senhor Jesus Cristo. Como
pode deus precisar de dinheiro? Não é ele onipotente, não pode ele tudo? Então
por que me pedem dinheiro em nome de deus? Também nunca o vi num shopping ou
num centro comercial comprando presentes e badulaques para seus filhos. Tem
esse dinheiro uso tão profícuo, para deus, quanto tem a mim um absorvente.
Esses valores arrecadados terminam sim por sustentar pastores e padres
patéticos, é a chamada “espilantralidade”. Mas, como já posto nem todos assim o
são, podendo os sacerdotes, em muitos casos, acreditar piamente em deus, diabo
e divindades mitológicas afim, conforme exposto em 6, e utilizar o dinheiro
arrecadado para manter a sua religião, recebendo, pois, dos freqüentadores
desta, quantia justa por seus trabalhos prestados.
9. Vamos
fingir, entretanto, que a existência de deus é irrefutável e insofismável.
Então, por tal, deus criou o mundo, o universo, todas as criaturas, e tudo
mais. Só aí nessa tese, que é amplamente aceita, um erro a compromete, o que
criou deus? Pois analisemos melhor. Como se sabe tudo necessita necessariamente
ser criado por algo, em tudo há um momento de síntese. Então, já que deus é o
pai de tudo, o que o criou? Essa pergunta não se restringe só a existência de
deus, mais também a todas as teorias criacionistas. O que vem antes do começo?
A essa pergunta ninguém, nem mesmo deus é capaz de responder, não sendo,
portanto ele onisciente (ele não saberá dar-me essa resposta), onipotente (ele
não foi capaz de se criar) e onipresente (ele não existia antes de ser
criado).
10.
Argumento ainda com mais uma tese. Muitas religiões dizem que o homem foi
criado a semelhança de deus. Outras tantas dizem ainda que haverá um dia em que
deus escolherá algumas pessoas que serão salvas e passarão a eternidade no
Paraíso e coisas assim. Ora, ora, que deus mais justo não? Todos viemos dele, e
ele escolherá alguns. Como pode ele me negar se, em última instância, nasci
dele, sou um prolongamento de seu corpo perfeito? E se não acreditar nele, mas
for uma pessoa de índole indene, ajudando os pobres e promovendo uma verdadeira
revolução social, transformando todos em iguais, ainda sim não serei salvo?
Quer deus que eu acredite em algo que nunca vi, e que também ninguém nunca viu
só por que todos os outros homens acreditam? Essa é a justiça de deus (ele não
seria bom magistrado).
11. Dizem
outros ainda que deus deixou seus ensinamentos na Bíblia. Supondo que tal é verdade,
e que a Bíblia foi escrita há tanto tempo que nem sem tem registros de tal, não
podem os homens ter alterado esta a seu bel prazer ou segundo os interesses de
determinados grupos? E quem me garante quem os apóstolos não se corromperam e
alteraram a Bíblia para favorecer seus posteriores familiares? Existe ainda o
Corão, livro sagrado dos mulçumanos. Quem acredita em Alá, e não em deus, e
quem tem sua base moral no Corão, e não na Bíblia, nunca será salvo? Como podem
tantos homens sucumbir a esta justiça distorcida, deste deus que vê e deixa
morrer Esse é só um exemplo dos erros relacionados a livros sagrados, pois cada
religião costuma ter o seu. Os brâmanes têm seus Vedas e os judeus a Torá, e a
grande maioria das tribos humanas tem sua própria religião passada oralmente,
como os indígenas, os aborígines, etc...
12. E
para que ele nos deixa viver, se ele é onipotente? Para nos ver sofrer e
implorar? Ou para ter o prazer de nos mandar para o Inferno? Se deus tudo pode,
é totalmente desprovido de sentido que ele crie seres viventes apenas para ver
a maioria ser destruída. Ele não precisa de mim, então por que motivo ele me
criaria?
13. O
ateísmo é superior, então, ao deísmo? A estes respondo: Acreditar em deus por
si só não constitui problema algum do ponto de vida filosófico. O mito deus,
para muitos é uma válvula de escape, pois, é realmente difícil acreditar que a
vida termina com a morte, e que se vive para nada. Deus, e o paraíso serviriam
para amenizar a falta de sentido de tudo. Pode servir deus ainda como forma de
dominação social de uma classe sobre outra, como foi e ainda é usado (dizem
muitos que tudo ocorre por que deus quer. Ora, ora, é então este deus sádico,
pois deixa que bilhões de pessoas passem fome e morram das causas mais diversas
sem intervir?), admitindo que tudo ocorre por que ele quer, e admitindo que o
capitalismo é muito justo. Essa figura emblemática que é deus pode ainda ser
usada como instrumento norteador da vida de muitos, dando um sentido a arte de
se viver, e servindo como esperança e confidente a muitos. Os ateus são por
lógica mais fortes e preparados que os outros, pois conseguem admitir diversas
coisas em muito enfraquecedoras de qualquer um. No entanto, é importante
mesclar no comando duma sociedade ambos, pois os ateus tendem a se tornar
céticos e materialistas demais, o que, em excesso, não é em nenhum momento bom.
Os religiosos tendem a se tornar mais confiantes e crédulos, o que também não é
bom em excesso. Por isso, numa mistura homogênea de ambos um governo tende a
ser melhor e a funcionar melhor.
14. Como
o homem começou a louvar deus? Se aceitarmos a gênese bíblica, o homem nasceu
do barro, e posteriormente foi expulso do Paraíso por conhecer o que deus
conhecia, e, desse ponto é fácil saber como os homens começaram a louvar deus.
Mas se aceitarmos, como atualmente muito é feito, a teoria de que deus criou o
Universo a partir do Big Bang, como o homem
descobriu que deus o havia criado, e agigantalho a questão, como os homens
tiveram acesso a Bíblia? Ela caiu da Cidade De Prata, ou algum ser iluminado,
como um querubim ou arcanjo, a trouxe para os homens? Onde está a primeira
Bíblia escrita, que seria, caso existisse, a relíquia mais preciosa da
Humanidade, melhor, do Universo.
15.Conclusivo. Cabe ainda nesta crítica /
apologia ressaltar que este estudo não é de forma algum conclusivo, e menos
ainda inquestionável. Trata-se apenas de coleção de certos fatos inerentes a
Deus que todos nós deveríamos ler e ter conosco, tanto para aprimorar nossas
opiniões, quanto para mudá-las ou diversificá-las, além de inquirir padres e
pastores com tais perguntas, não para vexá-los, mas sim para que eles também
reflitam a teologia dogmática de suas religiões. Marx diz-nos que “a religião é
o ópio do povo”. Analisemos esta frase. Marx, grande filósofo da humanidade,
que, bem como os comunistas, não é contra a religião, o cultivo da
espiritualidade por si só (que, de passagem e para não perder o costume, é um
sentimento), é sim, como bem já eu disse, contra a espilantralidade, que por
séculos enganou o povo e continua a fazê-lo, praticando terrorismo psicológico,
ou se valendo de deus para dominar e amansar socialmente outras classes sociais
que deveriam exercer o poder naturalmente. É também bem verdade que as
religiões tradicionais deram um salto e deixaram o medievalismo para trás,
especialmente depois de Frei Beto, Leonardo Boff e sua Teologia da Libertação,
passando a praticar ações socialmente mais profundas, sendo que muitas delas
são hoje essenciais em certos lugares carentes. Isso é bom e ruim. Bom por que
ajuda a exterminar os bolsões de pobreza, e ruim por que algumas religiões
novamente assumem papel que deveria ser exercido pelo Estado, e todos nós
sabemos que misturar política com religião ou religião e poder publico não
termina bem e não é recomendável. Vide feudalismo. Retomando, embora algumas
religiões tenham se modernizado, outras tantas surgem a cada dia. São religiões
fundamentalistas, com doutrinas apregoadas de falso moralismo, que tem entre a
camada mais pobre e com menor escolaridade da população seu foco ideal de ação.
Cabe ressaltar, entretanto que, como sempre, nada pode ser generalizado, pois
muitas das novas religiões que surgem tem bases sólidas, feitas sobre estudos
bastante complexos sobre os ensinamentos bíblicos, mas, infelizmente, estas são
minoria. E mesmo essas reformas pelas quais algumas religiões mais tradicionais
passaram não foram completas e necessitam ser terminadas, para que algum dia a
religião possa realmente elevar o homem espiritualmente, e livrar todas as
religiões de sua função original: dominar e amansar socialmente o grosso
populacional, para que as elites se mantenham no poder.
Felipe Luiz
Ribeirão Preto, 3 e 4 de novembro de 2004, 14h00min e
4h41min.