Este texto é de 2006. Na época, eu queria pesquisar o que era a verdade; em todos meus fichamentos, tinha uma folha onde debatia a questão da verdade e do autor do livro em questão. Este texto são notas que escrevi para publicar no texto que nunca veio a lume.
NOME DO TEXTO: “DA VERDADE:
SEUS PROBLEMAS, SIGNIFICADOS E ASPECTOS”.
Como
posso tratar do problema da verdade na cultura brasileira, que é um reflexo da
cultura ocidental, estando inserindo nela? Ou seja, sabe-se que minha opinião
será totalmente parcial. Estou inserido dentro dos fatos, faço parte do
processo. Isto, este detalhe, levanta pontos interessantes: Minhas opiniões
podem ser consideradas verdadeiras dentro do problema da verdade na cultura? Em
outras palavras, pode este texto ser levado em conta dentro da problemática da
verdade de qual maneira: como um depoimento de alguém, de um sujeito
cognoscente, inserido dentro desta cultura (e quando se diz inserido, digo a
formação da personalidade, da psique, do inconsciente, com seus valores iniciais
determinados por essa cultura); ou pelo contrário, como um espectador crítico
do problema único que representa a verdade na cultura, na linguagem, e seus
significado e peso nestas? Creio que possam me considerado como um misto de
ambos. Enquanto participante e agente dos fatos e enquanto fruto desta cultura.
Da
mesma forma, esta mesma pergunta, pode ser feita com relação à validade deste
ensaio: é possível haver um estudo sobre a verdade? Embora já anteriormente
resolvido, é algo desconcertante constatar a maneira como o termo é usado sem
que se interrogue de maneira adequada a sua validade. A verdade é usada em
conjunto com outras verdades dadas, como realidade, moral, objetividade, etc...
A verdade tem en
O
que me parece ser o mais importante na verdade não é tanto conceituai-la,
embora faça isto neste texto, mas sim tentar buscar o que, dentro do senso
comum, dentro da cultura entende-se por verdade, o que representa esta força
pelo qual se faz tanto, e pelo qual já se moveram toneladas? Por que esta fixação
cega num problema que, depois de tantos séculos, continua ainda a ser um problema, uma incógnita?
um
detalhe interessante é colocar que com uma conclusão podemos sair, algo de
verdadeiro neste problema: existe uma verdade, a verdade: pode tanto não haver
nenhuma verdade, o que já é uma verdade, que anuncia: não há verdade; ou pode
haver a verdade, um conceito que englobe em si conteúdo inegável, que
obrigatoriamente deva ser aceito por todos, que faça parte da existência, algo
que podemos perceber ou não. Entretanto, quero ressaltar, que o que motiva este
texto não é busca pela verdade, mas sim a busca pelo seu significado, que pode
desembocar na busca pela verdade, ora ou outra.
Soube,
através de um livro de Zeljko Loparic, Heidegger
Réu -Um Ensaio Sobre A Periculosidade Da Filosofia, que Habermas vem
trabalhando em uma teoria da verdade. Embora não tenha acesso a esse ensaio,
pois o desconheça, tenho acesso ao que Loparic revela sobre ele. Diz o pensador
eslavo que Habermas trabalhava com um conceito de verdade enquanto consenso.
Mas ai instaura-se um problema dos mais interessantes: será que há um consenso
genuíno na sociedade, ou este consenso é fruto de “manipulações
midiáticas”? Ou seja, as pessoas acham
o que acham e crêem no que crêem, ou acham e crêem no que a mídia acha e crê
por elas? A segunda opção me parece mais sensata. Tendo por ponto de partida
que se baseia a opinião ou em que se pensa serem fatos ou intuição, e que é
realmente bem difícil intuir sobre temas factuais, como fatos políticos,
pode-se chegar a conclusões interessantes: Observando os telejornais percebe-se
que as noticias são passadas de forma bem rápida e seguida, conta-se dezenas
num único bloco do jornal, além de estas já serem passadas
tudo
que é existe é verdadeiro, tem valor de verdade. O problema não está aí, mas
sim em determinar como conseguir a objetividade no que existe, ou seja, como
garantir que o que existe, existe sem qualquer tipo de contestação? Esse é o
problema.
o
segredo está em determinar o que existe para quem. Ou seja, se algo existe para
mim, esse objeto verdadeiramente existe, ou ele não existe?
Objetivo
é um adjetivo aplicado a proposições e a objetos físicos: algo é objetivo
quando é igual, permanece e não muda para todos os sujeitos num dado recorte
tempo-espacial, ou seja, pode-se definir a objetividade dum objeto num dado
momento: como se percebia o objeto num dado período histórico. Isto quer dizer,
que todos os sujeitos cognoscentes são capazes de perceber, de captar o objeto
objetivo da mesma maneira. Esta objetividade é buscada pela ciência.
Entretanto,
o sujeito cognoscente humano, o que tem a primazia como bem observa Heidegger,
tem em si uma característica que se constitui um grande obstáculo para essa
objetividade requerida: a subjetividade, sua contraparte, “maligna”, no
entender da ciência. Francis Bacon define a objetividade como sendo um ídolo da
mente, que ele chama de ídolos da caverna, numa referencia ao mito da caverna
platônico. Diz ele: os ídolos da caverna têm origem na peculiar constituição da
alma e do corpo; e também na educação, no habito e em eventos fortuitos.
Bacon
dá a idéia de como a ciência vê a subjetividade; uma turbação na limpidez do
intelecto.
As
coisas existem, penso, a partir do momento em que elas se manifestam para algum
sc, em algum momento. Creio que existência e subsistência são assuntos
distintos. Existir é se manifestar. Manifestar-se significa que em algum
momento o manifestante verdadeiramente existiu para o sc.
Tendo
uma questão sendo respondida, penso que outra imediatamente se forma: como o
manifestante se manifesta? Ou, de forma mais clara, como, através de qual
mecanismo, o sc percebe a presença de uma manifestação? Através da linguagem.
Boa
parte dos lingüistas concorda numa definição de linguagem, e de suas partes
constituintes:
A
língua tem, dentro da linguagem, um papel especial, como observa Barthes: assim
como o homem tem primazia sobre os outros entes, por ser aquele que se
questiona sobre o ente, a língua, enquanto canal privilegiado de comunicação,
onde boa parte da própria subjetividade moderna ou pós-moderna é constituída,
tem primazia sobre outros tipos de linguagem.
Língua,
enquanto convenção, é um sistema de signos, fechados, com regras próprias,
enfim, satisfaz as condições demonstradas por Piaget para ser considerada uma
estrutura: compreende a totalidade dos signos lingüísticos de um idioma; dentro
desta totalidade há leis e princípios que a auto-regulam, e que impossibilitam
que as fronteiras do sistema signíco sejam ultrapassadas; e conta com
mecanismos que possibilitam a transformação dos objetos constituintes.
Enquanto
convenção social, que ultrapassa os desígnios de um individuo, aceita por todos
os membros que queiram se inscrever no grupo de usuários falantes da língua, e
pode ser demarcada como sendo de uma dada forma num dado momento, ela também
satisfaz as nossas exigências para ser considerada objetiva.
Já
temos portanto um campo onde se tem certeza que a objetividade pode ser
alcançada: a língua.
Cremos
que, graças a isso, língua deve ser vista como espaço privilegiado da
objetividade: o espaço onde ela se questiona, a própria objetividade. Como
parece, a língua não é apenas o espaço privilegiado da objetividade, mas de
todo o conjunto da existência humana.
Como
bem sabemos, a ciência propõe-se a ser estritamente racional.
Como
a linguagem é um mecanismo de comunicação humana, ela não é só racional:
comporta todos os aspectos humanos de ser: é racional, sentimental, etc...
Aí
se formula um problema: se a ciência quer pertencer exclusivamente ao campo da
razão, e, se vale, para existir, da
língua, ela corre, a todo instante, o perigo de sair do campo que a define: a
razão. Este risco é permanente. Um risco, que, a meu entender é perfeitamente aceitável:
Deixar de ser cientifico para ser humano. Este é também um risco permanente
para todos os racionalistas: sair do campo da razão.
O
que ocorre é que ao dizer algo como “as batatas são gostosas”, está se dizendo:
estes signos lingüísticos representam demonstração de um objeto, que tem uma
qualidade. Está se estabelecendo uma relação de substituição: o signo
lingüístico substitui o objeto. Pode-se reduzir esta sentença a sua forma
lógica, como: Gx.
Esta
relação substitutiva é antes uma relação de verdade: “as” representam uma idéia;
“batatas” um objeto; “são” um estado; “gostosas” uma qualidade. Em todos esses
casos, o que quer se passar é que “as batatas são gostosas”, ou seja, uma
relação representativa, demonstrativa, indicativa, substitutiva e verdadeira.
O
problema da objetividade não está aí, mas sim em quem interpreta a sentença, no
sc.
A
subjetividade repousa principalmente nos adjetivos. Gostosas, um adjetivo,
representam uma idéia de algo bom, de paladar agradável, varia de acordo com o
sc, cada um tem um parâmetro do que é gostoso. Para se atingir a objetividade
os adjetivos são empecilhos.
Entretanto
o mais interessante é notar como verdade e existência são inseparáveis.
Dar
a algo o valor de verdade é constante, e, a todo o momento, se faz isso. Toda
palavra guarda uma verdade em si: a verdade de que dada palavra representa
verdadeiramente, para um grupo um objeto ou idéia, de que tem uma relação
verdadeira com o representado.
Quando
se tenta pegar um objeto, só se faz por que se acredita que tal objeto existe,
que ele está lá, onde se tenta pegá-lo, que ele é verdade. O mesmo ocorre
quando se anda, quando se respira, enfim, quando qualquer ação é feita:
fazemo-la por crer que os objetos a sofrer a ação existem, é verdadeiro.
Existência e verdade são intrínsecos e indissociáveis, não importando se o
objeto está ali ou não, se ele sofrerá ou não a ação.
Deve-se,
antes de se prosseguir, esclarecer o conceito verdade. Nossa definição de
verdade será: dado inquestionável acerca do objeto. Ter valor de verdade é ter
um objeto inquestionavelmente verdadeiro.
a
verdade é ao mesmo tempo um substantivo comum e um substantivo próprio.
Sendo
um substantivo próprio, a Verdade se aproxima dos primeiros estudos de
filosofia, e, segundo Heidegger, dos estudos primeiros. Seria uma variação da
physis pré-antropologica, pois se referiria a um principio, ou a princípios
universais, aquilo que criou e que vigora. Deus, para existir, por exemplo, tem
de ser uma Verdade. No campo político, tende-se a ver o próprio de uma civilização
como sendo Verdade: universal, e perante a qual todos devem se curvar.
Já
enquanto substantivo comum, a verdade indicará a definição já antes colocada, com a diferença de que o dado é sobre
qualquer objeto: algo é verdade quando é inquestionável. Essa
inquestionabilidade refere-se ao sc.
A
referencia do sc pode se dar de diversas formas, mas todas passam pelo relato
ou pela experiência, o que, entendo, significa o mesmo.
A
verdade se inscreve no geral ou no particular? Ou seja, a verdade é universal
ou pessoal? Ou ainda, a verdade é objetiva (em todos os sentidos) ou subjetiva?
Uma
vez que a verdade é também um substantivo próprio, ela é geral, universal e
objetiva, existindo com um conteúdo a ser explorado, ou inexistindo. Ao
existir, Ela está lá e aqui, pois é o principio fundante que vigora, é o que
vem e se mantém. Já inexistindo, Ela também está, mas troca-se à brutalidade de
uma verdade existente, pela brutalidade de sua inexistência: não há o que
descobrir, não há princípios, e, tão pouco, há algo secreto a ser descoberto no
mundo. Ciência, conhecimento, religião, civilização perdem todo seu sentido com
esta verdade.
Para
que a verdade seja um substantivo próprio ela deve ser universal. Dentro disto
restam opções:
1ª- Há uma, e apenas uma verdade Verdade, pois há
apenas um principio.
2ª- Não há nenhuma Verdade, e sua inexistência faz com
que haja uma Verdade, e não havendo principio, há um principio.
3ª - Há uma verdade, mas, ao invés do principio sufocante
da primeira, esta verdade é tão vasta que todas as opiniões cabem nela
simultaneamente.
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