sexta-feira, 31 de maio de 2019

Notas a serem inseridas no "Da verdade: seus problemas, significados e aspectos"



Este texto é de 2006. Na época, eu queria pesquisar o que era a verdade; em todos meus fichamentos, tinha uma folha onde debatia a questão da verdade e do autor do livro em questão. Este texto são notas que escrevi para publicar no texto que nunca veio a lume.

NOME DO TEXTO: “DA VERDADE: SEUS PROBLEMAS, SIGNIFICADOS E ASPECTOS”.
               
Como posso tratar do problema da verdade na cultura brasileira, que é um reflexo da cultura ocidental, estando inserindo nela? Ou seja, sabe-se que minha opinião será totalmente parcial. Estou inserido dentro dos fatos, faço parte do processo. Isto, este detalhe, levanta pontos interessantes: Minhas opiniões podem ser consideradas verdadeiras dentro do problema da verdade na cultura? Em outras palavras, pode este texto ser levado em conta dentro da problemática da verdade de qual maneira: como um depoimento de alguém, de um sujeito cognoscente, inserido dentro desta cultura (e quando se diz inserido, digo a formação da personalidade, da psique, do inconsciente, com seus valores iniciais determinados por essa cultura); ou pelo contrário, como um espectador crítico do problema único que representa a verdade na cultura, na linguagem, e seus significado e peso nestas? Creio que possam me considerado como um misto de ambos. Enquanto participante e agente dos fatos e enquanto fruto desta cultura.

Da mesma forma, esta mesma pergunta, pode ser feita com relação à validade deste ensaio: é possível haver um estudo sobre a verdade? Embora já anteriormente resolvido, é algo desconcertante constatar a maneira como o termo é usado sem que se interrogue de maneira adequada a sua validade. A verdade é usada em conjunto com outras verdades dadas, como realidade, moral, objetividade, etc... A verdade tem en



O que me parece ser o mais importante na verdade não é tanto conceituai-la, embora faça isto neste texto, mas sim tentar buscar o que, dentro do senso comum, dentro da cultura entende-se por verdade, o que representa esta força pelo qual se faz tanto, e pelo qual já se moveram toneladas? Por que esta fixação cega num problema que, depois de tantos séculos, continua ainda  a ser um problema, uma incógnita?

um detalhe interessante é colocar que com uma conclusão podemos sair, algo de verdadeiro neste problema: existe uma verdade, a verdade: pode tanto não haver nenhuma verdade, o que já é uma verdade, que anuncia: não há verdade; ou pode haver a verdade, um conceito que englobe em si conteúdo inegável, que obrigatoriamente deva ser aceito por todos, que faça parte da existência, algo que podemos perceber ou não. Entretanto, quero ressaltar, que o que motiva este texto não é busca pela verdade, mas sim a busca pelo seu significado, que pode desembocar na busca pela verdade, ora ou outra.

Soube, através de um livro de Zeljko Loparic, Heidegger Réu -Um Ensaio Sobre A Periculosidade Da Filosofia, que Habermas vem trabalhando em uma teoria da verdade. Embora não tenha acesso a esse ensaio, pois o desconheça, tenho acesso ao que Loparic revela sobre ele. Diz o pensador eslavo que Habermas trabalhava com um conceito de verdade enquanto consenso. Mas ai instaura-se um problema dos mais interessantes: será que há um consenso genuíno na sociedade, ou este consenso é fruto de “manipulações midiáticas”?  Ou seja, as pessoas acham o que acham e crêem no que crêem, ou acham e crêem no que a mídia acha e crê por elas? A segunda opção me parece mais sensata. Tendo por ponto de partida que se baseia a opinião ou em que se pensa serem fatos ou intuição, e que é realmente bem difícil intuir sobre temas factuais, como fatos políticos, pode-se chegar a conclusões interessantes: Observando os telejornais percebe-se que as noticias são passadas de forma bem rápida e seguida, conta-se dezenas num único bloco do jornal, além de estas já serem passadas

tudo que é existe é verdadeiro, tem valor de verdade. O problema não está aí, mas sim em determinar como conseguir a objetividade no que existe, ou seja, como garantir que o que existe, existe sem qualquer tipo de contestação? Esse é o problema.

o segredo está em determinar o que existe para quem. Ou seja, se algo existe para mim, esse objeto verdadeiramente existe, ou ele não existe?

Objetivo é um adjetivo aplicado a proposições e a objetos físicos: algo é objetivo quando é igual, permanece e não muda para todos os sujeitos num dado recorte tempo-espacial, ou seja, pode-se definir a objetividade dum objeto num dado momento: como se percebia o objeto num dado período histórico. Isto quer dizer, que todos os sujeitos cognoscentes são capazes de perceber, de captar o objeto objetivo da mesma maneira. Esta objetividade é buscada pela ciência.

Entretanto, o sujeito cognoscente humano, o que tem a primazia como bem observa Heidegger, tem em si uma característica que se constitui um grande obstáculo para essa objetividade requerida: a subjetividade, sua contraparte, “maligna”, no entender da ciência. Francis Bacon define a objetividade como sendo um ídolo da mente, que ele chama de ídolos da caverna, numa referencia ao mito da caverna platônico. Diz ele: os ídolos da caverna têm origem na peculiar constituição da alma e do corpo; e também na educação, no habito e em eventos fortuitos.

Bacon dá a idéia de como a ciência vê a subjetividade; uma turbação na limpidez do intelecto.

As coisas existem, penso, a partir do momento em que elas se manifestam para algum sc, em algum momento. Creio que existência e subsistência são assuntos distintos. Existir é se manifestar. Manifestar-se significa que em algum momento o manifestante verdadeiramente existiu para o sc.

Tendo uma questão sendo respondida, penso que outra imediatamente se forma: como o manifestante se manifesta? Ou, de forma mais clara, como, através de qual mecanismo, o sc percebe a presença de uma manifestação? Através da linguagem.

Boa parte dos lingüistas concorda numa definição de linguagem, e de suas partes constituintes:

A língua tem, dentro da linguagem, um papel especial, como observa Barthes: assim como o homem tem primazia sobre os outros entes, por ser aquele que se questiona sobre o ente, a língua, enquanto canal privilegiado de comunicação, onde boa parte da própria subjetividade moderna ou pós-moderna é constituída, tem primazia sobre outros tipos de linguagem.

Língua, enquanto convenção, é um sistema de signos, fechados, com regras próprias, enfim, satisfaz as condições demonstradas por Piaget para ser considerada uma estrutura: compreende a totalidade dos signos lingüísticos de um idioma; dentro desta totalidade há leis e princípios que a auto-regulam, e que impossibilitam que as fronteiras do sistema signíco sejam ultrapassadas; e conta com mecanismos que possibilitam a transformação dos objetos constituintes.

Enquanto convenção social, que ultrapassa os desígnios de um individuo, aceita por todos os membros que queiram se inscrever no grupo de usuários falantes da língua, e pode ser demarcada como sendo de uma dada forma num dado momento, ela também satisfaz as nossas exigências para ser considerada objetiva.

Já temos portanto um campo onde se tem certeza que a objetividade pode ser alcançada: a língua.

Cremos que, graças a isso, língua deve ser vista como espaço privilegiado da objetividade: o espaço onde ela se questiona, a própria objetividade. Como parece, a língua não é apenas o espaço privilegiado da objetividade, mas de todo o conjunto da existência humana.

Como bem sabemos, a ciência propõe-se a ser estritamente racional.

Como a linguagem é um mecanismo de comunicação humana, ela não é só racional: comporta todos os aspectos humanos de ser: é racional, sentimental, etc...

Aí se formula um problema: se a ciência quer pertencer exclusivamente ao campo da razão, e, se vale, para existir, da língua, ela corre, a todo instante, o perigo de sair do campo que a define: a razão. Este risco é permanente. Um risco, que, a meu entender é perfeitamente aceitável: Deixar de ser cientifico para ser humano. Este é também um risco permanente para todos os racionalistas: sair do campo da razão.

O que ocorre é que ao dizer algo como “as batatas são gostosas”, está se dizendo: estes signos lingüísticos representam demonstração de um objeto, que tem uma qualidade. Está se estabelecendo uma relação de substituição: o signo lingüístico substitui o objeto. Pode-se reduzir esta sentença a sua forma lógica, como: Gx.

Esta relação substitutiva é antes uma relação de verdade: “as” representam uma idéia; “batatas” um objeto; “são” um estado; “gostosas” uma qualidade. Em todos esses casos, o que quer se passar é que “as batatas são gostosas”, ou seja, uma relação representativa, demonstrativa, indicativa, substitutiva e verdadeira.

O problema da objetividade não está aí, mas sim em quem interpreta a sentença, no sc.

A subjetividade repousa principalmente nos adjetivos. Gostosas, um adjetivo, representam uma idéia de algo bom, de paladar agradável, varia de acordo com o sc, cada um tem um parâmetro do que é gostoso. Para se atingir a objetividade os adjetivos são empecilhos.

Entretanto o mais interessante é notar como verdade e existência são inseparáveis.

Dar a algo o valor de verdade é constante, e, a todo o momento, se faz isso. Toda palavra guarda uma verdade em si: a verdade de que dada palavra representa verdadeiramente, para um grupo um objeto ou idéia, de que tem uma relação verdadeira com o representado.

Quando se tenta pegar um objeto, só se faz por que se acredita que tal objeto existe, que ele está lá, onde se tenta pegá-lo, que ele é verdade. O mesmo ocorre quando se anda, quando se respira, enfim, quando qualquer ação é feita: fazemo-la por crer que os objetos a sofrer a ação existem, é verdadeiro. Existência e verdade são intrínsecos e indissociáveis, não importando se o objeto está ali ou não, se ele sofrerá ou não a ação.

Deve-se, antes de se prosseguir, esclarecer o conceito verdade. Nossa definição de verdade será: dado inquestionável acerca do objeto. Ter valor de verdade é ter um objeto inquestionavelmente verdadeiro.

a verdade é ao mesmo tempo um substantivo comum e um substantivo próprio.

Sendo um substantivo próprio, a Verdade se aproxima dos primeiros estudos de filosofia, e, segundo Heidegger, dos estudos primeiros. Seria uma variação da physis pré-antropologica, pois se referiria a um principio, ou a princípios universais, aquilo que criou e que vigora. Deus, para existir, por exemplo, tem de ser uma Verdade. No campo político, tende-se a ver o próprio de uma civilização como sendo Verdade: universal, e perante a qual todos devem se curvar.

Já enquanto substantivo comum, a verdade indicará a  definição já antes colocada, com a diferença de que o dado é sobre qualquer objeto: algo é verdade quando é inquestionável. Essa inquestionabilidade refere-se ao sc.

A referencia do sc pode se dar de diversas formas, mas todas passam pelo relato ou pela experiência, o que, entendo, significa o mesmo.

A verdade se inscreve no geral ou no particular? Ou seja, a verdade é universal ou pessoal? Ou ainda, a verdade é objetiva (em todos os sentidos) ou subjetiva?

Uma vez que a verdade é também um substantivo próprio, ela é geral, universal e objetiva, existindo com um conteúdo a ser explorado, ou inexistindo. Ao existir, Ela está lá e aqui, pois é o principio fundante que vigora, é o que vem e se mantém. Já inexistindo, Ela também está, mas troca-se à brutalidade de uma verdade existente, pela brutalidade de sua inexistência: não há o que descobrir, não há princípios, e, tão pouco, há algo secreto a ser descoberto no mundo. Ciência, conhecimento, religião, civilização perdem todo seu sentido com esta verdade.

Para que a verdade seja um substantivo próprio ela deve ser universal. Dentro disto restam opções:
1ª- Há uma, e apenas uma verdade Verdade, pois há apenas um principio.
2ª- Não há nenhuma Verdade, e sua inexistência faz com que haja uma Verdade, e não havendo principio, há um principio.
3ª - Há uma verdade, mas, ao invés do principio sufocante da primeira, esta verdade é tão vasta que todas as opiniões cabem nela simultaneamente.

Nenhum comentário:

Postar um comentário