sexta-feira, 31 de maio de 2019

Apologia Ao Ateísmo E Desmistificação Da Religião (O ceticismo puro)

Texto de 2004.


Apologia Ao Ateísmo E Desmistificação Da Religião
(O ceticismo puro)

             Muitos dizem deus, deus, e nem ao menos pensam em tentar saber o que exatamente é deus. Imaginam-no como uma criatura metafísica responsável pela criação do mundo e do Universo e de todas as formas vivas e de tudo que enfim existe. Ora, ora, nada mais falacioso que tal colocação.

1. Primeiro, Há muito já nos disse Parmênides de Eléia que tudo no Universo ou é ou não-é, em suma, que algo existe ou algo não existe, não havendo caminho adverso. Se algo é, existe e é material, palpável. Já se não-é, inexiste, assim sendo, é imaterial, não passando de imaginação.

2. Segundo, Parmênides ainda nos legou que não se deve perder tempo tentando explicar o que não-é, já que pesquisar ou fazer conjecturas sobre o que não-é, sobre o que não existe, constitui-se metafísico, e, portanto nunca poderá ser explicado. Vejamos a questão que nos aflige de outro modo: deus é ou não-é? Respondo: eu, e ninguém que conheça, nunca viu nem tocou deus e nem conhece alguém que o viu ou nele tocou. (Ignoremos agora o Citado em 1) E mesmo que deus transcendesse a matéria, constituindo seu corpo algo intocável e etéreo, ele teria imagem ou no mínimo presença física (pois senão os homens nunca teriam começado a louvá-lo)! E, mesmo esta presença física, continua sem ser vista por qualquer um que conheça, então chegamos à conclusão que deus não-é e por tal não existe.

(2 ½. Pequena impressão de contradição. Cabe aqui um esclarecimento. Conforme o já dito, as coisas ou são ou não-são. Acabo de afirmar acima que deus não-é, portanto não existe. Afirmo também que se algo não-é, é impossível que se faça afirmações a seu respeito. Mas, se deus não-é como é que existem conjecturas a seu respeito? A isso respondo: os filósofos tradicionalmente dividem as interpretações do que existe em dois grandes grupos possíveis de interpretações, o mundo sensível e o mundo das idéias. O mundo sensível é aquele que os cinco sentidos, tato, olfato, visão, audição e gustação, podem captar. Já o mundo das idéias é aquele onde, através da compreensão do mundo sensível pelos sentidos, o homem constrói conceitos e assemelhados. Deus é, portanto, como será demonstrado adiante, uma construção mental que certos indivíduos tem consigo, existindo apenas na mente dos homens, ou seja, ele é e não-é ao mesmo tempo, pois ele não existe fisicamente, existindo apenas no mundo das idéias, pois os homens o criaram.)

3. Além do mais, caso se admita a idéia do corpo de deus ser fantasmagórico, por que somente o deus católico-judaico-cristão existe? Se porventura este existe, não existirão também outros e outros iguais, ou impares entre si, provindos das mais diversas culturas, tribos, países e etnias. Mesmo que exista um deus mais forte e outros mais fracos, nós teríamos não apenas um ser perfeito e infinito, e sim diversos outros. Assim, por que os outros deuses nos permitiriam louvar a um só, consoante prega as religiões monoteístas? Certamente estes interviriam, ou não? Pode-se argumentar que todos os deuses são a mesma faceta de um mesmo ser. Mas tal afirmação é irracional, pois o que um católico considera correto não é muitas vezes correto para um budista ou mulçumano. Logo, é impossível que admitamos a idéia de um só deus, a menos que este tenha Síndrome de Caim ou símile.

4. Se deus é, então ele é feito de matéria ou se deus não-é, inexiste, e é imaterial. Bem, como nunca o vi e nem conheço alguém que o tenha visto, assim como não registro histórico fidedigno que o comprove, ele não-é, e por tal inexiste, podendo ser no máximo um sentimento ou uma projeção mental. Não há como algo existir sem ser material, palpável. Isso é correto e ortodoxo. “Muito bem”, dizem então os religiosos, “Então me explique os sentimentos e sua natureza. Nunca relei no amor ou na saudade ou na felicidade, mas sinto estes pulsarem em minhas veias e exortar a mim e a todos que conheço”. Ora, ora, pelo que me consta os sentimentos tem sua origem no cérebro (e que alguns chamam de coração, não no sentindo relativo ao órgão que bombeia o sangue, mas sim no sentido do lugar onde os sentimentos originam-se, é onde o homem “sente”). Sei também que os impulsos nervosos do cérebro têm sua origem em substâncias químicas, que instigam os neurônios a dar uma resposta ao meio externo. Por estas conclui-se que o amor, bem como todos os outros sentimentos e similares, são originados de impulsos nervosos e substâncias químicas, sendo, depois de sabido o supracitado, um fenômeno em essência químico. Percebe-se então que não existe o Amor como muitos dizem, e sim existe o amar, a ação do Amor é verdadeira, mas o Amor, como nos é passado atualmente é a mais caluniosa das mentiras, pois o amor deixou de ser amor e se tornou Amor, adquiriu vida própria, transformou-se num mito, idealizou-se, é hoje mais uma idéia que um sentimento propriamente dito. (N.E. *Ver O ceticismo puro aplicado e As conseqüências do ceticismo puro)

5. Já que deus não-é, sendo, portanto, imaterial, só nos resta duas coisas que ele pode ser: sentimento ou projeção mental, tendo ambas a capacidade de explicá-lo.

6. Não pode então deus ser considerado um sentimento? Deus por si só, como já ficou provado, inexiste. Mas então no que as pessoas acreditam. O que ocorre é que deus inexiste, mas a fé que se tem nele existe, sendo deus então, segundo os métodos socráticos, um sentimento. Do mesmo modo que o amor, o ato de sentir fé é um impulso nervoso, estimulado por uma substância química, que chegará aos neurônios, que por sua vez responderão a este impulso da forma que melhor lhes apetecer. Sentir fé é antes de tudo acreditar piamente, ter confiança muito grande a algo ou alguém. Se deus não se constitui material, mas acredita-se nele, nada mais passa a fé que sentem em deus (e por conseqüência ele próprio) do que um sentimento, ou seja, deus é fé e sentimento, e deus não criou os homens nem universo algum, mas sim estes o criaram e agora invertem o papel.

7. Mas, por que as pessoas gostam de sentir-se enganadas? O grande problema é que elas não se sentem. Sua fé cristalizou-se de tal forma unilateral, que pensam elas que deus existe, e que ele é um ser perfeito, físico, onisciente, onipresente e onipotente. Para essas, deus não é um sentimento, mas sim um ser real. Na verdade, pessoas com fé muito grande em deus constituíram para si próprias uma projeção mental, tal qual uma ilusão ou holograma. E estas têm chances diminutas de se libertar. Uma projeção mental nada mais é que algo, um ser, um sentimento, etc..., Que nossa mente, por puro conforto ou comodismo, projeta e nos ilude. Claro que a mente não faz isso por que quer, mas sim por que permitimos, como já foi dito, por comodismo, por preguiça de pensar e raciocinar ou por não conseguir aceitar algo, encontrar os fundamentos lógicos na existência divina. A mente pode criar projeções mentais ainda por que a pessoa quer acreditar naquilo ou está com aquilo na mente, muitas vezes em decorrência do que lhe foi exposto enquanto criança ainda imberbe. Quem já viu vultos ou ouviu seu nome sendo chamado sem ter ninguém chamando sabe o que digo e que isto se constitui verdade.

8. Bem vejamos, então todos os milagres, padres, pastores, e símiles, nada mais são que farsantes e vigaristas? Talvez sim farsantes, mas farsantes “eufemizados” (pois muitas vezes, e estas são maioria, eles também acreditam no que pregam)..., ou seja, eles são farsantes de si próprios, pois na maioria absoluta das vezes, como já citado, eles mesmos acreditam no que dizem;... mas nem tanto vigaristas, embora se observe hoje novamente em certas religiões (que passou a ser confundida com igreja) a venda de indulgências, onde se cobra quantia insólita por uma Bíblia, tudo em nome e pelo Senhor Jesus Cristo. Como pode deus precisar de dinheiro? Não é ele onipotente, não pode ele tudo? Então por que me pedem dinheiro em nome de deus? Também nunca o vi num shopping ou num centro comercial comprando presentes e badulaques para seus filhos. Tem esse dinheiro uso tão profícuo, para deus, quanto tem a mim um absorvente. Esses valores arrecadados terminam sim por sustentar pastores e padres patéticos, é a chamada “espilantralidade”. Mas, como já posto nem todos assim o são, podendo os sacerdotes, em muitos casos, acreditar piamente em deus, diabo e divindades mitológicas afim, conforme exposto em 6, e utilizar o dinheiro arrecadado para manter a sua religião, recebendo, pois, dos freqüentadores desta, quantia justa por seus trabalhos prestados.

9. Vamos fingir, entretanto, que a existência de deus é irrefutável e insofismável. Então, por tal, deus criou o mundo, o universo, todas as criaturas, e tudo mais. Só aí nessa tese, que é amplamente aceita, um erro a compromete, o que criou deus? Pois analisemos melhor. Como se sabe tudo necessita necessariamente ser criado por algo, em tudo há um momento de síntese. Então, já que deus é o pai de tudo, o que o criou? Essa pergunta não se restringe só a existência de deus, mais também a todas as teorias criacionistas. O que vem antes do começo? A essa pergunta ninguém, nem mesmo deus é capaz de responder, não sendo, portanto ele onisciente (ele não saberá dar-me essa resposta), onipotente (ele não foi capaz de se criar) e onipresente (ele não existia antes de ser criado). 

10. Argumento ainda com mais uma tese. Muitas religiões dizem que o homem foi criado a semelhança de deus. Outras tantas dizem ainda que haverá um dia em que deus escolherá algumas pessoas que serão salvas e passarão a eternidade no Paraíso e coisas assim. Ora, ora, que deus mais justo não? Todos viemos dele, e ele escolherá alguns. Como pode ele me negar se, em última instância, nasci dele, sou um prolongamento de seu corpo perfeito? E se não acreditar nele, mas for uma pessoa de índole indene, ajudando os pobres e promovendo uma verdadeira revolução social, transformando todos em iguais, ainda sim não serei salvo? Quer deus que eu acredite em algo que nunca vi, e que também ninguém nunca viu só por que todos os outros homens acreditam? Essa é a justiça de deus (ele não seria bom magistrado).

11. Dizem outros ainda que deus deixou seus ensinamentos na Bíblia. Supondo que tal é verdade, e que a Bíblia foi escrita há tanto tempo que nem sem tem registros de tal, não podem os homens ter alterado esta a seu bel prazer ou segundo os interesses de determinados grupos? E quem me garante quem os apóstolos não se corromperam e alteraram a Bíblia para favorecer seus posteriores familiares? Existe ainda o Corão, livro sagrado dos mulçumanos. Quem acredita em Alá, e não em deus, e quem tem sua base moral no Corão, e não na Bíblia, nunca será salvo? Como podem tantos homens sucumbir a esta justiça distorcida, deste deus que vê e deixa morrer Esse é só um exemplo dos erros relacionados a livros sagrados, pois cada religião costuma ter o seu. Os brâmanes têm seus Vedas e os judeus a Torá, e a grande maioria das tribos humanas tem sua própria religião passada oralmente, como os indígenas, os aborígines, etc... 

12. E para que ele nos deixa viver, se ele é onipotente? Para nos ver sofrer e implorar? Ou para ter o prazer de nos mandar para o Inferno? Se deus tudo pode, é totalmente desprovido de sentido que ele crie seres viventes apenas para ver a maioria ser destruída. Ele não precisa de mim, então por que motivo ele me criaria?

13. O ateísmo é superior, então, ao deísmo? A estes respondo: Acreditar em deus por si só não constitui problema algum do ponto de vida filosófico. O mito deus, para muitos é uma válvula de escape, pois, é realmente difícil acreditar que a vida termina com a morte, e que se vive para nada. Deus, e o paraíso serviriam para amenizar a falta de sentido de tudo. Pode servir deus ainda como forma de dominação social de uma classe sobre outra, como foi e ainda é usado (dizem muitos que tudo ocorre por que deus quer. Ora, ora, é então este deus sádico, pois deixa que bilhões de pessoas passem fome e morram das causas mais diversas sem intervir?), admitindo que tudo ocorre por que ele quer, e admitindo que o capitalismo é muito justo. Essa figura emblemática que é deus pode ainda ser usada como instrumento norteador da vida de muitos, dando um sentido a arte de se viver, e servindo como esperança e confidente a muitos. Os ateus são por lógica mais fortes e preparados que os outros, pois conseguem admitir diversas coisas em muito enfraquecedoras de qualquer um. No entanto, é importante mesclar no comando duma sociedade ambos, pois os ateus tendem a se tornar céticos e materialistas demais, o que, em excesso, não é em nenhum momento bom. Os religiosos tendem a se tornar mais confiantes e crédulos, o que também não é bom em excesso. Por isso, numa mistura homogênea de ambos um governo tende a ser melhor e a funcionar melhor.

14. Como o homem começou a louvar deus? Se aceitarmos a gênese bíblica, o homem nasceu do barro, e posteriormente foi expulso do Paraíso por conhecer o que deus conhecia, e, desse ponto é fácil saber como os homens começaram a louvar deus. Mas se aceitarmos, como atualmente muito é feito, a teoria de que deus criou o Universo a partir do Big Bang, como o homem descobriu que deus o havia criado, e agigantalho a questão, como os homens tiveram acesso a Bíblia? Ela caiu da Cidade De Prata, ou algum ser iluminado, como um querubim ou arcanjo, a trouxe para os homens? Onde está a primeira Bíblia escrita, que seria, caso existisse, a relíquia mais preciosa da Humanidade, melhor, do Universo.

15.Conclusivo. Cabe ainda nesta crítica / apologia ressaltar que este estudo não é de forma algum conclusivo, e menos ainda inquestionável. Trata-se apenas de coleção de certos fatos inerentes a Deus que todos nós deveríamos ler e ter conosco, tanto para aprimorar nossas opiniões, quanto para mudá-las ou diversificá-las, além de inquirir padres e pastores com tais perguntas, não para vexá-los, mas sim para que eles também reflitam a teologia dogmática de suas religiões. Marx diz-nos que “a religião é o ópio do povo”. Analisemos esta frase. Marx, grande filósofo da humanidade, que, bem como os comunistas, não é contra a religião, o cultivo da espiritualidade por si só (que, de passagem e para não perder o costume, é um sentimento), é sim, como bem já eu disse, contra a espilantralidade, que por séculos enganou o povo e continua a fazê-lo, praticando terrorismo psicológico, ou se valendo de deus para dominar e amansar socialmente outras classes sociais que deveriam exercer o poder naturalmente. É também bem verdade que as religiões tradicionais deram um salto e deixaram o medievalismo para trás, especialmente depois de Frei Beto, Leonardo Boff e sua Teologia da Libertação, passando a praticar ações socialmente mais profundas, sendo que muitas delas são hoje essenciais em certos lugares carentes. Isso é bom e ruim. Bom por que ajuda a exterminar os bolsões de pobreza, e ruim por que algumas religiões novamente assumem papel que deveria ser exercido pelo Estado, e todos nós sabemos que misturar política com religião ou religião e poder publico não termina bem e não é recomendável. Vide feudalismo. Retomando, embora algumas religiões tenham se modernizado, outras tantas surgem a cada dia. São religiões fundamentalistas, com doutrinas apregoadas de falso moralismo, que tem entre a camada mais pobre e com menor escolaridade da população seu foco ideal de ação. Cabe ressaltar, entretanto que, como sempre, nada pode ser generalizado, pois muitas das novas religiões que surgem tem bases sólidas, feitas sobre estudos bastante complexos sobre os ensinamentos bíblicos, mas, infelizmente, estas são minoria. E mesmo essas reformas pelas quais algumas religiões mais tradicionais passaram não foram completas e necessitam ser terminadas, para que algum dia a religião possa realmente elevar o homem espiritualmente, e livrar todas as religiões de sua função original: dominar e amansar socialmente o grosso populacional, para que as elites se mantenham no poder.

Felipe Luiz

Ribeirão Preto, 3 e 4 de novembro de 2004, 14h00min e 4h41min.

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