Texto de 2004.
Efeito Televisão
Estou completamente desvairado para completar vinte e
um anos e me candidatar a Deputado Federal. E não por que Brasília é linda e
vou estar perto do centro das decisões políticas não, é somente para poder
fazer um projeto de lei proibindo a televisão. Não um canal ou outro, mais sim
o eletrodoméstico, o aparelho de televisão. Maldito seja quem inventou esse
artefato demoníaco. Ai que saudades do rádio. A televisão presta um desserviço
à comunidade. Enquanto no rádio havia apenas a locução de, por exemplo, uma
novela, na televisão esta é mostrada, como se você fosse uma espécie de
divindade. A televisão mastiga e engole
para você, enquanto se vê um programa não há reação, apenas se recebe os
estímulos visuais e se entra no maravilhoso mundo da alienação. Com a locução
havia justamente o contrário, pois tudo que se passava na novela, com exceção
do enredo, era imaginado, fazendo o cidadão, mesmo que forçosamente, pensar. Se
Lamarck estiver certo, com sua Teoria dos Caracteres Adquiridos, em breve
muitos seres humanos não terão sequer cérebro. Ele vai acabar se atrofiando e
virando uma ervilha! Aí fico pensando se não é melhor que o cérebro se atrofie
de vez. Talvez em seu lugar nasça um dedo ou um braço, ou algum outro órgão que
ajude o imbecil a melhor viver. E os pobres livros, obrigados a viver sob o pé
das estantes e das cômodas, atrás das portas e como pesos de papel, e às vezes
como enfeite em reluzentes prateleiras. Claramente a população, o grosso
popular, aderiu à televisão. Prefiro acreditar que os motivos para tal se
resumem no desconhecimento do prazer da leitura de um livro ou de um
texto. Ou talvez por preguiça, como em
grande parte de outros acontecimentos, onde relegamos diversas outras
atividades, como a militância política, a defesa dos direitos, dentre outras. É
duro para mim, um ativista de corpo e alma, que treme diante de qualquer
injustiça, mesmo que mínima, que ocupa a maior parte da vida na luta pelos
direitos alheios, saber que por preguiça, pura e simples milhares passam fome,
são explorados com salários realmente mínimos, estão desempregados ou são
obrigados a viver através de bolsa - preencha com alguma palavra de sua
escolha do Governo, que nada mais é que esmola. O Governo não deve dar
subsídios a pessoas de baixa renda, e sim trabalhar para que haja emprego e
todos possam se sustentar e viver dignamente, mesmo que temporariamente faça
uso da política do New Deal, construindo, como reza esta prática, prédios públicos
que faltam na infra-estrutura das cidades
e aderindo ao Welfare Estate como este realmente é. O
Estado do Bem estar deve fornecer todos os direitos descritos na Constituição,
por lógicas exeqüíveis, fazendo do Estado uma peça realmente profícua no
combate dos mais pobres, como também é disposto na Constituição, fornecendo
emprego, ensinando o camarada a pescar, não dando o peixe. “Só a educação liberta”. (Epicteto)
Ribeirão Preto, 19 de Agosto de 2004
Felipe Luiz
Diretor Social do Grêmio Estudantil da E.E. Prof. Cid de
Oliveira Leite, Diretor Social e Cultural da Alunesp, Membro da Comissão Pró
UMES e Coordenador Ribeirão Pretano da Juventude Revolução.
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