sexta-feira, 31 de maio de 2019

A Dialética Da Existência OU A Negação Da Existência (O ceticismo aplicado)


Texto de 2004.


A Dialética Da Existência
OU
A Negação Da Existência
(O ceticismo aplicado)


               No mundo moderno, o homem criou uma série de conceitos, e estes ele usa diariamente, muitas vezes desconhecendo seu significado real, tendo apenas uma reminiscência destes. Assim sendo, peço que reflitam sobre o conceito de existência. Segundo o dicionário existir é ter existência, é ser, estar, viver, ser duradouro. Aprofundando na questão, quis saber o que era ser, e, ainda segundo o dicionário, ser é ter sentido. Ora, ora, na minha concepção nada tem sentido, pois tudo desembocará na questão principal da criação: Quem criou a vida? Entretanto paremos esse raciocínio por aí, e vejamos a vida, o ser, a existência duma forma dialética.

1. Dialética, para os desavisados, é o conjunto tese - antítese = síntese. Ou seja, para toda teoria há uma teoria controvérsia que coloca a veracidade da primeira teoria em julgo.

2. A dialética teve sua origem com Sócrates. Entretanto foi Aristóteles que primeiro teorizou a respeito da dialética e deu-lhe o nome de silogismo. Não obstante, vamos nos ater ao pensamento socrático. Este a explicava da seguinte forma: Imagine que A, B e C são números ou objetos ou qualquer outra coisa. Bem, se A é igual a B, e B é igual a C, logo A será igual a C. Sintetizado, A = B, B = C, A = C. Esse é o princípio da dialética, explicar a partir de certos fatos conhecidos outro fato.

3. Posteriormente houve o silogismo aristotélico, que, em muito, é igual ao raciocínio socrático. A partir de diversas constatações, as premissas ou juízos ou proposições, chega-se numa razão, numa conclusão. Por exemplo, Sócrates é um homem, todos os homens são mortais, logo, Sócrates é mortal. O silogismo é também chamado de pensamento lógico formal, ou pensamento lógico, e através dele muitas questões de nossa vida podem ser respondidas ou esclarecidas.

4. Entrementes, a dialética pura vai um pouco mais profundo. Vejamos uma forma de se interpretar o exposto em 1. Ora, se para toda a tese há uma antítese, ou seja, para tudo há um contrário, um paradoxo, e, a partir desse jogo, chegamos numa conclusão, pois tem-se que para tudo há algo inversamente contrário de mesma força ou intensidade. Essa é uma constante filosófica que pode ser observada na Física, quando se discute a Terceira Lei de Newton ou Principio da Ação e Reação e mesmo em estudos gramaticais da língua portuguesa, por exemplo.

5. A partir do conhecido agora, chegamos numa próxima questão, que certamente deve ser considerada como verdadeira. Os contrários se destroem para que surja a síntese entre eles. Por exemplo, digo eu que o melhor jornal que existe é o jornal X, enquanto você diz que, muito pelo contrário, o M, na verdade, é o melhor jornal. Bem, temos agora duas opiniões claramente conflitantes. Eu expus a minha tese e você fez o mesmo e expôs sua tese. Se quisermos chegar num acordo pacifico, sem que haja o abuso da força por algumas das partes, teremos que discutir as teses. A partir daí temos possibilidades coloridas.
I - Eu posso lhe convencer que X é o melhor, e você, pela mesma via, também pode me convencer que M é melhor que X.
II – Podemos, ainda, não chegar num acordo sadio e não completar a dialética.
III - Uma das partes pode também impor sua opinião a outra, como já nos dizia Maquiavel, se valendo da força ou símiles.
 IV - Ou, em última instância, podemos concordar que, na verdade, o melhor mesmo é o jornal W.

6. Em qualquer uma das formas de acordo, a opinião de uma das partes muda, mesmo quando não se chega a um acordo, pois as partes refletirão sobre os argumentos alheios, tanto para mudar os seus argumentos ou opiniões, quanto para fortalecê-los e melhorá-los. Ao se chegar numa conclusão diferente da idéia inicial, temos uma síntese, que só vem comprovar a veracidade da dialética.

7. Se tudo tem seu contrário, qual o contrário do homem? O espírito, diriam muitos, e, digamos que concorde eu com isto. E qual a síntese desta conjuntura? Refaço a pergunta, agigantando-a: O contrário de Deus, sempre colocado como uma criatura eterna sublime e benéfica, seria Lúcifer, ser também infinito e maléfico. Bem, bem, qual a síntese desta luta maniqueísta entre o Bem ou a Ordem, incorporadas em Deus e o Mal ou o Caos, sintetizados no Diabo?

8. Numa concepção judaico-cristã, a síntese dessa luta é a Existência. Ou seja, da luta eterna entre o Deus e o Diabo nasce a Existência. Percebam que a própria questão da existência anterior de deus e do diabo não é levada em conta, pois se a síntese da luta entre os dois é a existência, há existências antecedentes a estes, que escapam a própria existência.

9. Se a Existência é fruto da destruição mutua entre Deus e o Demônio, Bem e Mal, Ordem e Caos, ou de sua união, então esta é Neutra e Justa, como nos diz o raciocínio lógico. A razão entre Bem e Mal é a Neutralidade, e a razão entre Ordem e Caos é a Justiça.

10. Bem, se a Existência é Neutra, e todas as coisas no universo existem em função desta luta, então tudo universo é Neutro. Mas, nesse dilema, encontra-se outro mais profundo: Podem as coisas decidir por qual lado lutarão?

11. Se puderem, estaremos admitindo que existem pessoas que praticam o Mal por que escolheram, e outras, caridosas, que louvam fazer o Bem a outras.

12. Um padre ou pastor é bom, por que tenta revelar a verdade dogmática a outros. Um político que distribui alimentos também é bom, ora, pois, está matando a fome dos outros.

13. Já um ladrão que roubar um pedaço de pão duma padaria é claramente maléfico e deveria ser queimado ou apedrejado, pois, não importando os meios e sim os fins, ele acaba de retirar de um homem bom, o padeiro, para alimentar a um homem que é mal, ele próprio, pois foi capaz de roubar um homem bom.

*(13 ½. Pequena Distorção Imposta À Sociedade Pelas Religiões. Antes a questão fosse simples a tal ponto que, num pequeno silogismo, o resolvêssemos. Partindo do exposto acima, existem seres totalmente bons ou seres totalmente maus. E, se, hipoteticamente, o referido ladrão encontrasse uma quantia muito grande de dinheiro, e esta doasse todo aos pobres em testamento, fazendo milhares de famintos felizes, estaria ele fazendo um ato bom, redimindo o outro, ou todos os outros de sua vida. Então temos que um ato mal pode ser esquecido por outro benéfico. Bom, então quer dizer que, caso seja eu rico, posso viver numa eterna maldade, que, ao deixar tudo que tenho para ser usado em doações aos pobres, serei redimido e considerado um bom homem. Assim tem-se que o dinheiro compra a bondade, e que, como quem é bom vai ao paraíso, o dinheiro compra o paraíso e a felicidade eterna.)*.


14. Voltando, qual é a síntese do homem – espírito? É a vida. A vida é algo superior ao homem e ao espírito, caso este exista. Mas, será que é possível pensar em algo que não existe, pois se não existe como pensar nesta coisa. Empiricamente façamos a pergunta de outra forma: Como saber se algo existe? E se algo não existir, como saberemos que realmente não existe? Melhor, se chegarmos à conclusão que algo não existe como saberemos se na realidade aquilo que achávamos que não existia existe e o que acreditávamos que existia (no caso, nós) verdadeiramente não existe? Portanto a existência também é subjetiva a cada um. Segundo o dicionário existir significa ter realidade; entretanto a realidade (que aqui defino como o que cada um crê verdadeiramente) também é subjetiva, pois cada um acredita no que quiser e não há (ainda) ditadura que possa entrar na sua mente e mudar seu pensamento. Assim posso crer que existem extraterrestres enquanto outro pode me chacotear por tal crença.

15. A essência do parágrafo acima é: “Não importa o quão estranho ou alienado seja algo, caso alguém acredite neste, ele passa a existir, pois a realidade é feita a partir da experiência própria, e cada um tem a sua”.

16. O espírito seria a essência do homem. Ou seja, “o que garante a individualidade necessária à interpretação da realidade de cada um”. Mas se a realidade de cada um é empírica e racional antes de tudo, e o que garante a interpretação subjetiva da realidade é esse empirismo, e o que garante que nós lembremos das coisas é a memória, o espírito é o romântico da memória. O espírito é construído também por cada um subjetivamente. Assim a existência, a vida existe em função da memória. E o que se chama de memória é o que faz haver o espírito, sendo este inexistente.

17. Imagine as conseqüências catastróficas para os animais caso não tivessem memória. Talvez eles não fossem nem mesmo capazes de respirar, pois o processo de respiração é garantido pela memória gênica das células por ela responsável. Temos então que o espírito, compreendido como essência metafísica do vivo, nada mais é do que invenção.


           Alguns dizem que o homem é um animal social. Outros tantos dizem que o homem é racional. Pobres destes dois tipos. A única coisa que o homem é, sem dúvidas de erro, é que ele não é nada.

1. É fato que o homem, bem como qualquer outro ser

O homem é como um coringa, uma carta em branco, tudo que o homem pensa, ou sabe ou pensa saber, provem não de si meso, de seu espírito, como chamam os que neste acreditam. Tudo que o homem sabe vem do que lhe foi ensinado. A única coisa natural no homem é o que é natural em todos os outros animais: instinto de sobrevivência, e é em função desse instinto que todos os homens necessitariam viver


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