Texto de 2004.
A Dialética Da Existência
OU
A Negação Da Existência
(O ceticismo aplicado)
No mundo moderno, o homem criou uma série de
conceitos, e estes ele usa diariamente, muitas vezes desconhecendo seu
significado real, tendo apenas uma reminiscência destes. Assim sendo, peço que
reflitam sobre o conceito de existência. Segundo o dicionário existir é ter
existência, é ser, estar, viver, ser duradouro. Aprofundando na questão, quis
saber o que era ser, e, ainda segundo o dicionário, ser é ter sentido. Ora,
ora, na minha concepção nada tem sentido, pois tudo desembocará na questão
principal da criação: Quem criou a vida? Entretanto paremos esse raciocínio por
aí, e vejamos a vida, o ser, a existência duma forma dialética.
1. Dialética, para os desavisados,
é o conjunto tese - antítese = síntese. Ou seja, para toda teoria há uma teoria
controvérsia que coloca a veracidade da primeira teoria em julgo.
2. A dialética teve sua origem
com Sócrates. Entretanto foi Aristóteles que primeiro teorizou a respeito da
dialética e deu-lhe o nome de silogismo. Não obstante, vamos nos ater ao
pensamento socrático. Este a explicava da seguinte forma: Imagine que A, B e C
são números ou objetos ou qualquer outra coisa. Bem, se A é igual a B, e B é
igual a C, logo A será igual a C. Sintetizado, A = B, B = C, A = C. Esse é o
princípio da dialética, explicar a partir de certos fatos conhecidos outro fato.
3. Posteriormente houve o
silogismo aristotélico, que, em muito, é igual ao raciocínio socrático. A
partir de diversas constatações, as premissas ou juízos ou proposições,
chega-se numa razão, numa conclusão. Por exemplo, Sócrates é um homem, todos os
homens são mortais, logo, Sócrates é mortal. O silogismo é também chamado de
pensamento lógico formal, ou pensamento lógico, e através dele muitas questões
de nossa vida podem ser respondidas ou esclarecidas.
4. Entrementes, a dialética pura vai
um pouco mais profundo. Vejamos uma forma de se interpretar o exposto em 1.
Ora, se para toda a tese há uma antítese, ou seja, para tudo há um contrário,
um paradoxo, e, a partir desse jogo, chegamos numa conclusão, pois tem-se que
para tudo há algo inversamente contrário de mesma força ou intensidade. Essa é
uma constante filosófica que pode ser observada na Física, quando se discute a
Terceira Lei de Newton ou Principio da Ação e Reação e mesmo em estudos gramaticais
da língua portuguesa, por exemplo.
5. A partir do conhecido agora,
chegamos numa próxima questão, que certamente deve ser considerada como
verdadeira. Os contrários se destroem para que surja a síntese entre eles. Por
exemplo, digo eu que o melhor jornal que existe é o jornal X, enquanto você diz
que, muito pelo contrário, o M, na verdade, é o melhor jornal. Bem, temos agora
duas opiniões claramente conflitantes. Eu expus a minha tese e você fez o mesmo
e expôs sua tese. Se quisermos chegar num acordo pacifico, sem que haja o abuso
da força por algumas das partes, teremos que discutir as teses. A partir daí
temos possibilidades coloridas.
I - Eu posso lhe convencer que X é
o melhor, e você, pela mesma via, também pode me convencer que M é melhor que X.
II – Podemos, ainda, não chegar
num acordo sadio e não completar a dialética.
III - Uma das partes pode também
impor sua opinião a outra, como já nos dizia Maquiavel, se valendo da força ou
símiles.
IV - Ou, em última instância, podemos concordar que, na verdade, o
melhor mesmo é o jornal W.
6. Em qualquer uma das formas de
acordo, a opinião de uma das partes muda, mesmo quando não se chega a um
acordo, pois as partes refletirão sobre os argumentos alheios, tanto para mudar
os seus argumentos ou opiniões, quanto para fortalecê-los e melhorá-los. Ao se
chegar numa conclusão diferente da idéia inicial, temos uma síntese, que só vem
comprovar a veracidade da dialética.
7. Se tudo tem seu contrário,
qual o contrário do homem? O espírito, diriam muitos, e, digamos que concorde
eu com isto. E qual a síntese desta conjuntura? Refaço a pergunta,
agigantando-a: O contrário de Deus, sempre colocado como uma criatura eterna
sublime e benéfica, seria Lúcifer, ser também infinito e maléfico. Bem, bem,
qual a síntese desta luta maniqueísta entre o Bem ou a Ordem, incorporadas em
Deus e o Mal ou o Caos, sintetizados no Diabo?
8. Numa concepção judaico-cristã,
a síntese dessa luta é a Existência. Ou seja, da luta eterna entre o Deus e o
Diabo nasce a Existência. Percebam que a própria questão da existência anterior
de deus e do diabo não é levada em conta, pois se a síntese da luta entre os
dois é a existência, há existências antecedentes a estes, que escapam a própria
existência.
9. Se a Existência é fruto da
destruição mutua entre Deus e o Demônio, Bem e Mal, Ordem e Caos, ou de sua
união, então esta é Neutra e Justa, como nos diz o raciocínio lógico. A razão
entre Bem e Mal é a Neutralidade, e a razão entre Ordem e Caos é a Justiça.
10. Bem, se a Existência é Neutra,
e todas as coisas no universo existem em função desta luta, então tudo universo
é Neutro. Mas, nesse dilema, encontra-se outro mais profundo: Podem as coisas
decidir por qual lado lutarão?
11. Se puderem, estaremos
admitindo que existem pessoas que praticam o Mal por que escolheram, e outras,
caridosas, que louvam fazer o Bem a outras.
12. Um padre ou pastor é bom, por
que tenta revelar a verdade dogmática a outros. Um político que distribui
alimentos também é bom, ora, pois, está matando a fome dos outros.
13. Já um ladrão que roubar um
pedaço de pão duma padaria é claramente maléfico e deveria ser queimado ou
apedrejado, pois, não importando os meios e sim os fins, ele acaba de retirar
de um homem bom, o padeiro, para alimentar a um homem que é mal, ele próprio,
pois foi capaz de roubar um homem bom.
*(13 ½. Pequena Distorção
Imposta À Sociedade Pelas Religiões.
Antes a questão fosse simples a tal ponto que, num pequeno silogismo, o
resolvêssemos. Partindo do exposto acima, existem seres totalmente bons ou
seres totalmente maus. E, se, hipoteticamente, o referido ladrão encontrasse
uma quantia muito grande de dinheiro, e esta doasse todo aos pobres em
testamento, fazendo milhares de famintos felizes, estaria ele fazendo um ato
bom, redimindo o outro, ou todos os outros de sua vida. Então temos que um ato
mal pode ser esquecido por outro benéfico. Bom, então quer dizer que, caso seja
eu rico, posso viver numa eterna maldade, que, ao deixar tudo que tenho para
ser usado em doações aos pobres, serei redimido e considerado um bom homem.
Assim tem-se que o dinheiro compra a bondade, e que, como quem é bom vai ao paraíso,
o dinheiro compra o paraíso e a felicidade eterna.)*.
14. Voltando, qual é a síntese do
homem – espírito? É a vida. A vida é algo superior ao homem e ao espírito, caso
este exista. Mas, será que é possível pensar em algo que não existe, pois se
não existe como pensar nesta coisa. Empiricamente façamos a pergunta de outra
forma: Como saber se algo existe? E se algo não existir, como saberemos que realmente
não existe? Melhor, se chegarmos à conclusão que algo não existe como saberemos
se na realidade aquilo que achávamos que não existia existe e o que acreditávamos
que existia (no caso, nós) verdadeiramente não existe? Portanto a existência
também é subjetiva a cada um. Segundo o dicionário existir significa ter
realidade; entretanto a realidade (que aqui defino como o que cada um crê
verdadeiramente) também é subjetiva, pois cada um acredita no que quiser e não
há (ainda) ditadura que possa entrar na sua mente e mudar seu pensamento. Assim
posso crer que existem extraterrestres enquanto outro pode me chacotear por tal
crença.
15. A essência do parágrafo acima
é: “Não importa o quão estranho ou alienado seja algo, caso alguém acredite
neste, ele passa a existir, pois a realidade é feita a partir da experiência
própria, e cada um tem a sua”.
16. O espírito seria a essência
do homem. Ou seja, “o que garante a individualidade necessária à interpretação
da realidade de cada um”. Mas se a realidade de cada um é empírica e racional
antes de tudo, e o que garante a interpretação subjetiva da realidade é esse
empirismo, e o que garante que nós lembremos das coisas é a memória, o espírito
é o romântico da memória. O espírito é construído também por cada um
subjetivamente. Assim a existência, a vida existe em função da memória. E o que
se chama de memória é o que faz haver o espírito, sendo este inexistente.
17. Imagine as conseqüências
catastróficas para os animais caso não tivessem memória. Talvez eles não fossem
nem mesmo capazes de respirar, pois o processo de respiração é garantido pela
memória gênica das células por ela responsável. Temos então que o espírito,
compreendido como essência metafísica do vivo, nada mais é do que invenção.
Alguns
dizem que o homem é um animal social. Outros tantos dizem que o homem é
racional. Pobres destes dois tipos. A única coisa que o homem é, sem dúvidas de
erro, é que ele não é nada.
1. É fato que o homem, bem como qualquer outro ser
O homem é como um coringa, uma
carta em branco, tudo que o homem pensa, ou sabe ou pensa saber, provem não de
si meso, de seu espírito, como chamam os que neste acreditam. Tudo que o homem
sabe vem do que lhe foi ensinado. A única coisa natural no homem é o que é
natural em todos os outros animais: instinto de sobrevivência, e é em função
desse instinto que todos os homens necessitariam viver
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