O livro de Ivan Domingues, "Filosofia no Brasil", lançado em 2007 pela EDUNESP, é um livro onde o autor pretende fazer "metafilosofia", ou seja, filosofia da filosofia, nesta caso, filosofia da filosofia brasileira, cobrindo nossos mais de quinhentos anos de história. Assim, Domingues, adotando diversos métodos, como os da linguística e o weberiano dos tipos ideias, traça uma história do fazer filosófico brasileiro, perguntando pelos seus porquês. Além disso, o livro analisa criticamente o contexto da produção filosófica, apoiado nos clássicos da historiografia e sociologia brasileira, como Gilberto Freyre, Sérgio Buarque e Faoro, além de um considerável rol de autores menos conhecidos, mas com estudos nem por isso menos preciosos. Domingues mostra, seguindo Weber, nos brinda com tipos ideias de filosófos ou "filosofantes" brasileiros, divididos segundo uma organização própria ao desenvolvimento da filosofia na terra brasilis: Colônia, Império e República velha, Implantação do sistema institucional (1930-1960) e quadro atual. Para cada período, foi escolhido um intelectual que personificaria, com maior ou menor acuidade, como é próprio do método weberiano, um tipo ideal de intelectual; por exemplo, na colônia, Padre Vieira. Domingues considera que não faria sentido falar em filosofia no Brasil atualmente, em tempos de intelectual cosmopolita globalizado, que tem o mundo como pátria; e que, se já fizemos uma formidável acumulação primitiva de capital filosófico, resta agora produzir estes intelectuais globalizados; assim, para ele, como também para Paulo Arantes, aquele vaticínio de Cruz Costa, de que a filosofia brasileira seria "terra-a-terra" não faz sentido. Como se disse, se trata de um texto de metafilosofia, que possui seus méritos e suas falhas também. Por não ser livro de história da filosofia, aborda-se pouco as influências que o tipo de filosofia transplantado para o Brasil mais recentemente, o estruturalismo francês de Guéroult e Goldschmidt, teve nestas paragens, o que determinou um tipo de fazer filosófico do qual padecemos: a glosa. É certo que o transoceanismo e o filoneísmo são apontados como caracetrística da filosofia brasileira, ao menos em certo período; mas Domingues põe tudo isto de lado na asserção de que o tempo dos nacionalismo já passou, e que agora vivemos na aldeia global, onde o pensamento extravasa as fronteiras e a filosofia é feita em redes. Estranho que o livro seja de 2017, ano em que Trump assume a presidência, colocando o America first na capa de todos os jornais. A opção por Weber não nega a vertente liberal do autor, bem como o pouco uso de outros clássicos da interpretação brasileira, como Caio Prado, Nelson Werneck e, até mesmo Octávio Brandão. A profissão de fé liberal de Domingues e um texto cheio de termos afrancesados dão mostras de que, ele mesmo, adotou por credo as benesses do neoliberalismo, que, dentre nós, faz tantos estragos. Se o livro de Ivan Domingues "A filosofia no Brasil" é leitura obrigatória para os estudantes de filosofia brasileiros, como também o livro de Paulo Arantes, o de Ubirajara Rancan de Azevedo Marques e os de Cruz Costa, não se pode negar estes elementos, especialmente a pouca afeição pela criação de uma tradição filosófica brasileira, que reflita nossas aspirações enquanto formação social periférica e afroindígenalatina, em contraste com as tradições importadas, do centro, que somente visam a nos subjugar não só econômica, como culturalmente, nos dissolvendo na razão européia pretensamente universal.
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